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2007-03-07
A diretoria da IFC (Corporação Financeira Internacional, na sigla inglesa), o braço do Banco Mundial que financia a iniciativa privada, decidirá amanhã (8/3) se aprova um empréstimo no valor de US$ 90 milhões para o Grupo Bertin, maior exportador de carne do Brasil. Os recursos serão investidos em matadouros e curtumes, alguns deles na Amazônia.

Parte do empréstimo será aplicado na expansão das instalações do grupo na região de Marabá (PA). Ali, a capacidade de abate seria ampliada das atuais 250 mil cabeças de gado por ano para 500 mil até 2009. Há também investimentos previstos em Redenção e Conceição do Araguaia (PA), em Cacoal (RO) e em Água Boa (MT).

O plano vem gerando protestos de ambientalistas. Segundo eles, o apoio a projetos de pecuária -maior vetor de desmatamento na região amazônica- vai contra as diretrizes do próprio Banco Mundial e aumentará a pressão sobre a floresta.

As ONGs argumentam ainda que não foram feitos estudos de impacto ambiental em todas as regiões, e que a IFC já cometeu erros (leia texto à direita). "Na verdade, na região de Marabá, o ideal seria cortar em dois terços o rebanho e não expandi-lo, como pretende o projeto", disse à Folha Roberto Smeraldi, presidente do Fórum Brasileiro das ONGs. As contas do grupo estão baseadas em relatório feito a pedido da IFC.

O estudo foi produzido pela empresa de consultoria Arcadis, com base em dois cenários. Em um deles, a área desmatada cresce em 10%. No outro, a área usada atualmente fica saturada em 2010. Ou seja, não caberá mais boi na região.

"O próprio estudo feito previamente diz que a área usada pelo rebanho dos fornecedores do Grupo Bertin é de 84.000 km2. Mas boa parte dela foi desmatada de forma ilegal. O correto, para cumprir a lei, seria que essa ocupação fosse reduzida para 31.000 km 2", diz o ambientalista.

Procurado pela Folha, o Grupo Bertin não quis comentar as contas feitas pelas ONGs. A empresa disse que todos os questionamentos deveriam ser feitos à IFC, que é responsável pela avaliação do projeto.

A IFC disse que o incremento na produção não se dará às expensas da floresta. Seus técnicos dizem acreditar que técnicas modernas de produção podem aumentar o número de animais por hectare na região de 1,2 para até 1,56.

A IFC, que está há dois anos avaliando o pedido de empréstimo do Grupo Bertin, também informou que a empresa brasileira terá de cumprir uma série de exigências e implementar um projeto gradual para a produção sustentável na cadeia de suprimento de carne e couro em sua unidade de Marabá.

O principal objetivo dessa medida é tentar resolver, pelo menos entre os fornecedores do grupo, a polêmica questão da posse da terra na região. Em um prazo de dois anos, vários documentos serão exigidos para as propriedades que quiserem vender gado para o grupo.

Essa política de compra prevê ainda que a Bertin não comprará gado de qualquer fornecedor que esteja condenado por grilagem de terra em Marabá. Isso passa a valer no terceiro mês do contrato.

"É bem pouco provável que exista alguma condenação. Além disso, seria interessante que isso fosse verificado também em outras regiões da Amazônia e não apenas em Marabá", explica Smeraldi. "Se essas prática legais fossem implementadas imediatamente, e não daqui a dois anos, provavelmente não teria ninguém para vender gado hoje."

O projeto divide até mesmo os ambientalistas. Para o ecólogo Daniel Nepstad, do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), ele representa uma boa oportunidade de legalizar o setor ganadeiro -que não vai desaparecer da Amazônia. "O que a gente mais precisa na Amazônia é de frigoríficos que cobram boas práticas de seus fornecedores e pagam por isso."
(Por Eduardo Geraque, Folha de S. Paulo, 07/03/2007)
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe0703200701.htm

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