Painel sobre mudança climática ainda é conservador, diz Carlos Nobre
2007-03-07
O climatologista Carlos Nobre, do Centro de Pesquisa do Tempo e Estudos Climáticos do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), abriu a sabatina da Folha, nesta terça-feira (6/3), explicando os principais termos ligados ao tão falado aquecimento global.
"Aquecimento global e aumento do efeito estufa são duas faces da mesma moeda", disse Nobre. Segundo ele, o planeta já possui um aquecimento natural, mas quando debate-se o aquecimento global, o foco são os gases adicionais que o homem injeta na atmosfera. "Se não houvesse emissão de gases, a temperatura nessa época do ano estaria 0,6 ºC mais fria", explicou.
Segundo o climatologista, o homem é o ser com maior habilidade de adaptação, mas ainda assim deve agir em relação as mudanças climáticas.
"Se formos olhar egoisticamente, perceberíamos que conseguimos conviver com certas mudanças. Mas acho que sentimos uma certa responsabilidade ética, eu diria, com respeito não só às outras espécies do planeta, mas também ao fato de que uma parcela grande da população --com menor poder aquisitivo-- tem menor possibilidade de adaptação."
Para Nobre, o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática) tem sucesso em demonstrar "que não é apenas a temperatura que está aumentando, mas também que o gelo está derretendo, o nível do mar está aumentando, entre outras mudanças." Ainda assim, o relatório divulgado no começo deste ano é "conservador".
"O IPCC, quando você olha bem as conclusões, elas são conservadoras. Os resultados mais audaciosos --que são verdadeiros-- ainda nem apareceram." No entanto, diz Nobre, esses dados mais críticos devem ser divulgados no próximo relatório do IPCC.
IPCC
Nobre é presidente do Comitê Científico do Programa Internacional da Geosfera-Biosfera (IGBP) e membro do Grupo de Trabalho 2 do IPCC, cujo relatório sobre impactos e vulnerabilidades à mudança climática será lançado em abril.
O IPCC é a mais alta autoridade do mundo sobre aquecimento global. Foi criado em 1988 para avaliar as informações científicas disponíveis a respeito de mudanças climáticas.
O estudo do Grupo de Trabalho 1 do IPCC deixou claro que a culpa pelo aquecimento global é mesmo da humanidade e que as conseqüências serão sentidas de qualquer forma, não importa o que façamos a partir de agora. É justamente esse estudo sobre os impactos prováveis da mudança climática que será divulgado pelo Grupo de Trabalho 2 do IPCC, do qual faz parte Carlos Nobre.
(Por Diógenes Muniz, Folha Online, 06/03/2007)
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u16086.shtml