O futuro transformado em cinzas no Senegal: grandes perdas provocadas por incêndios florestais
2007-03-07
É temporada de incêndios florestais no Senegal, e com ela regressam os temores de que vastos setores de terra fértil sejam arrasados pelo fogo. Esse período se estende de outubro a maio. A maioria dos incêndios ocorre no sul e sudeste, principalmente nas regiões de Tambacounda, Kolda, Ziguinchor, Louga e Matam. Entre 2005 e 2006, mais de 400 mil hectares foram afetados por uma série de graves incêndios. Quase um décimo da central região de Linguère ficou reduzido a cinzas, bem como mais de 9% da localidade de Bakel, no leste. Além disso, foram registrados vários focos menores.
Freqüentemente, os agricultores usam o fogo para limpar a terra das ervas daninhas e prepara-la para o plantio. Isto lhes permite evitar a o trabalho de fazer a limpeza de forma manual. A perda de fertilidade do solo faz com que os produtores constantemente procurem novas terras. O Senegal sofreu uma redução de 25% da fertilidade de seus solos e perda anual de 80 mil hectares de cobertura florestal desde a grande seca dos anos 780 na África ocidental, disse Papa Mawade Wade, especialista em desertificação.
Segundo o agrônomo Mansour Fall, “desde a independência, em 1960, a superfície total reservada para o setor agrícola permanece inalterada, já que as terras aptas para plantio apenas substituem as que foram perdidas por causa da redução da fertilidade”. É comum os incêndios fugirem ao controle, potenciados pela vegetação, que se torna densa durante a temporada de chuvas. “Calcula-se que os incêndios consomem por ano 350 mil hectares de florestas”, segundo o Programa Nacional de Ação para Combater a Desertificação no Senegal, adotado em outubro de 1998.
O Centro de Acompanhamento Ecológico recomendou identificar as áreas ricas em vegetação antes do final de cada temporada de chuva, bem como criar comitês especiais para combater incêndios nas regiões mais vulneráveis. Além disso, sugeriu estimular os agricultores a criarem corta-fogo (baixas de terreno sem vegetação) às vésperas da temporada de incêndios. Funcionários ligados à administração da água, do reflorestamento e dos parques nacionais fazem corta-fogo ao longo de estradas e ferrovias, bem como ao redor de aldeias na região de Bamcaounda, para evitar futuros incêndios. Mas se as comunidades locais não conseguem criar corta-fogo dentro das condições requeridas, os incêndios podem ficar sem controle.
As autoridades já deram passos para conscientizar sobre os incêndios no norte, onde ocorrem em menor quantidade. Eles quase não existem no extremo leste, onde há grandes áreas urbanas e regiões agrícolas menos vulneráveis. O centro do país, onde se cultiva amendoim, é afetado apenas levemente. Fall disse que apenas uma fração do território do Senegal se presta para a agricultura. Uma redução sistemática nesta área pelos incêndios poderia criar um déficit agrícola.
(Por Michée Boko, IPS, 06/03/2007)
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