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2007-03-07
Destruição do pouco que resta de vegetação nativa; perda de solo por erosão e por compactação com o uso de máquinas pesadas; contaminação do solo e da água com agrotóxicos e adubos sintéticos, como o nitrogênio. Esses são apenas alguns dos problemas ambientais que o aumento da produção de cana para produção de açúcar e etanol causará no Espírito Santo.

A análise é de Elias Alves, um dos coordenadores do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) no Estado. Hoje o Espírito Santo tem 60 mil hectares plantados com cana para abastecer as usinas que produzem álcool e açúcar. Nos próximos anos os plantios totalizaram pelo menos 110 mil hectares plantados com cana.

Os problemas que serão criados pelo programa do governo brasileiro no Espírito Santo e encampado pelo empresariado tanto nacional como transnacional vão se repetir no País na mesma proporção do aumento dos plantios em nível nacional, diz Elias Alves.

"A ampliação dos plantios de cana destruirão a biodiversidade. Provocarão impacto sobre o solo, acabando com seus micronutrientes e microorganismos. Também será destruída a vegetação. Hoje, em meio ao pasto, o latifúndio costuma deixar algumas árvores. Nem isso restará", afirma o coordenador do MPA.

No Espírito Santo restou da mata atlântica cerca de 7% de vegetação original. Mesmo assim, sem controle adequado e até com a conivência de técnicos do Instituto de Defesa Agropecuária a Florestal (Idaf) e do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), o pouco que resta vem sendo destruído. Também não combatem adequadamente a destruição da vegetação nativa a Polícia Militar Ambiental, o Ibama e as prefeituras.

Os latifundiários estão deixando de lado seus pastos, que serão trocados pelos plantios de cana. Como faz o grupo Simão, com imensas áreas em municípios como Ecoporanga. No futuro, diz Elias Alves, as áreas plantadas com cana terão plantios de eucalipto. O custo para recuperação ambiental de áreas degradadas desta forma é extraordinariamente alto, pois a terra vira praticamente um deserto.

Os plantios de cana-de-açúcar, as pastagens e os eucaliptais no norte e noroeste capixaba inviabilizarão a agricultura camponesa, essa responsável pela maior parte da produção dos alimentos dos brasileiros.

Elias Alves lembra que o latifúndio da cana, das pastagens e dos eucaliptos faz até o uso de aviões para lançar venenos agrícolas sobre as plantações. No caso da cana, há ainda o agravante das queimadas, preparatórias para as colheitas. Essa queima libera gases que causam o efeito estufa. Esses gases provocam o aquecimento da terra, e já estão promovendo catástrofes ambientais.

Somado ao fim de praticamente toda a vegetação arbórea, inclusive nas margens dos córregos e rios e, com destruição da mata atlântica nas áreas de recargas das nascentes, que são os topos de morros e encostas, não haverá água suficiente para atender as necessidades da agricultura e das pessoas.

Também serão criados problemas sociais. A mão-de-obra será formada por "bóias-frias do nordeste, que serão safristas. Fora da época de safra, esses trabalhadores vão ficar sem emprego, nas favelas", afirma Elias Alves.

A ampliação dos plantios de cana no Brasil é anunciada para atender a demanda mundial de biocombustíveis. O país é líder mundial na produção do etanol. Em busca do etanol brasileiro estão vindo os países ricos. Na dianteira, os Estados Unidos da América (USA).

Nesta sexta-feira (9/3) o presidente norte-americano Unidos, George W. Bush, vem ao Brasil para discutir um acordo com o governo Lula. Do ponto de vista político, a Via Campesina entende os EUA manterá seu modelo colonial com o acordo. A Via Campesina é formada pelo MST e MPA, entre outros segmentos.

A Via Campesina entende que os EUA "têm interesses ocultos" com este programa. Embora justificado como uma parceria entre o Brasil e EUA na produção de alternativas energéticas "limpas", na verdade o que está sendo proposto pelo governo americano oculta a estratégia de grandes empresas interessadas em dominar o mercado internacional de biocombustíveis.

Estados Unidos precisam importar combustível para atingir a meta, definida por seu governo, de substituir 20% de seus combustíveis pelo etanol.
(Por Ubervalter Coimbra, Século Diário - ES, 06/03/2007)
http://www.seculodiario.com.br/arquivo/2007/marco/06/noticiario/meio_ambiente/06_03_08.asp

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