O desejo da Prefeitura, de doar uma área de 40 hectares para a Cooperfumos instalar uma usina de álcool e, no futuro, de biodiesel em Santa Cruz do Sul, poderá gerar polêmica. Vereadores e entidades não são contra a iniciativa, mas querem uma avaliação mais profunda do projeto que tramita no Legislativo.
Antes da reunião de segunda-feira (6/3), os vereadores realizaram encontro informal com o secretário do Desenvolvimento Econômico, Milton Theisen, e com o coordenador do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), José Gilberto de Oliveira Tuhtenhagem, que também é o presidente da Cooperativa Mista de Fumicultores do Brasil (Cooperfumos). Os dois deram detalhes sobre o Complexo Agroindustrial e Profissionalizante – Alimentos e Bioenergia do Vale do Rio Pardo.
Conforme Tuhtenhagem, a entidade, além de produzir álcool, vai manter e até ampliar a produção de alimentos nas pequenas propriedades. Se o município doar a área, o governo federal garantirá R$ 4 milhões para a implantação da usina, que produzirá combustível a partir da cana-de-açúcar ainda este ano. Em 2008, seria iniciada a usina de biodiesel, havendo, inclusive, a possibilidade de a Petrobras realizar um grande investimento nessa área.
RISCO – O secretário pediu que os vereadores analisassem a possibilidade de o projeto ser aprovado em regime de urgência urgentíssima, mas a solicitação foi descartada. Theisen fez um apelo para que a comunidade se una em torno da idéia. “Não podemos ter medo de assumir riscos. Estamos buscando soluções para o desenvolvimento do município e acreditamos nessa proposta.”
Segundo Tuhtenhagem, os produtores já plantam cana para alimentar os animais. Com a usina, poderão extrair o suco, que será processado para virar álcool. Salientou que essa matéria-prima virá de quase todo o Estado e não só dos municípios da região. “A proposta não objetiva substituir o fumo, mas sim oferecer mais uma alternativa de renda.”
O projeto que doa área à Cooperfumos começou a tramitar segunda-feira na Câmara. A gleba a ser desmembrada pertence ao Parque de Eventos, às margens da RST–471. Os vereadores, em uma primeira avaliação, são favoráveis ao empreendimento, mas querem esclarecer algumas dúvidas. Elo Schneiders (PSB) e André Scheibler (PTB) se mostraram preocupados com o rendimento da cana-de-açúcar. O fumo, por exemplo, garante R$ 11 mil por hectare. A cana, em torno de R$ 2 mil, se a média de produção for de 30 toneladas por hectare. Segundo eles, pode ser instalado um grande complexo e não haver interessados em plantar.
Entidades querem participar das discussões
Logo depois do encontro com Theisen e Tuhtenhagem, os vereadores reuniram-se com entidades ligadas ao setor agrícola de Santa Cruz do Sul. A audiência foi solicitada pelo Sindicato Rural, Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR), Associação dos Feirantes e Associação dos Produtores da Ceasa Regional. Todas estão preocupadas com a sustentabilidade do projeto e querem cautela.
O presidente do Sindicato Rural, Marco Antônio dos Santos, disse que a forma como o assunto vem sendo tratado causa preocupação. Frisou que as entidades fazem parte do Conselho Agropecuário e, no entanto, não foram ouvidas. “Inclusive liguei para o secretário da Agricultura e ele não sabia nada sobre o projeto.” Ainda questionou a respeito do impacto ambiental do projeto.
Na sua avaliação, a Convenção Quadro provocou uma ânsia de diversificação. Mas advertiu que isso deve ser feito com cautela. Lembrou que a Afubra trabalha em um projeto de biodiesel há mais de um ano e ainda não tem conclusões. “Estranhamos que uma entidade, que ninguém conhecia, agora venha apresentar proposta sem discutir com ninguém.”
O presidente do STR, Pedro Osvino Etges, esclareceu que as entidades não são contrárias ao projeto da usina de álcool, mas querem participar das discussões. “Ao longo dos anos, sempre fomos parceiros do governo municipal. Agora não podemos ser deixados de lado.”
(
Gazeta do Sul, 07/03/2007)