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2007-03-07
São Paulo já não tem o mesmo clima de anos atrás. A sensação de invernos mais curtos e menos rigorosos acompanhados de períodos mais quentes está traduzida em números. A temperatura média na capital subiu 2,6°C nos últimos 77 anos.

O restante do Estado acompanha a tendência, onde temperaturas médias no período oscilaram entre 1,5°C e 2°C para cima, dependendo da região. A comprovação da mudança dos termômetros está em um documento do Projeto Memória da Fundação Ubaldino do Amaral, em Sorocaba.

O quadro retrata a mesma preocupação apontada há um mês no novo relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), o mais respeitado documento sobre o tema no mundo. O IPCC diz que a Terra pode esquentar 3°C até 2100 devido ao efeito estufa.

A urbanização e o desmatamento também influenciaram o aumento da temperatura do Estado no último século. “As cidades maiores, impermeabilizadas pelo asfalto, transformaram-se em ilhas de calor”, diz o diretor técnico do Ciagro, Orivaldo Brunini. Ele lembra que a temperatura mínima em Campinas, em julho de 1890, era de 14,5°C. “Hoje, não fica abaixo de 16°C.”

História
O relatório trata-se de um documento do antigo Serviço Meteorológico e Astronômico de São Paulo em que são analisadas as temperaturas registradas em 1929 em 68 pontos de observação espalhados pelo Estado. Confrontados com as medições feitas no ano passado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e pelo Centro Integrado de Informações Meteorológicas da Secretaria da Agricultura do Estado, os registros mostram que as temperaturas médias subiram.

“Parte do aquecimento é natural, mas parte foi causado pela interferência humana”, diz o climatologista Pedro Leite da Silva Dias, que integra o IPCC. Segundo ele, ainda há um grau alto de incerteza sobre quanto vale a responsabilidade de cada, mas lembra que, além do efeito estufa, a mudança do solo de floresta para pasto tem grande impacto nas temperaturas, assim como as cidades.

A capital foi mais fortemente afetada pelo aquecimento em todo o Estado. Em 1929, segundo o relatório, São Paulo registrou temperatura média de 17,5°C. Em 2006, já de acordo com o Inmet, a média foi de 20,1°C - ou 2,6°C a mais. O aumento também superou os 2°C em Ribeirão Preto, região norte do Estado: a temperatura média passou de 20,3°C para 22,5°C.

Havia ainda fortes geadas, com a temperatura ficando abaixo de zero. A capital paulista viu neve no início do século passado, algo impensável nos tempos atuais.Uma frente fria, em junho de 1918, fez com que a temperatura caísse para 12°C negativos no planalto. “Próximo de Cunha, foi possível atravessar um curso d’água sobre uma espessa camada de gelo, e verdadeiras quedas de neve foram observadas em vários pontos do Estado”, registra o documento. “Na Avenida Paulista, além do congelamento da água exposta ao relento e em depósitos de pequena profundidade, tivemos a queda de neve em quantidade apenas perceptível, no Observatório de São Paulo.” Várias cidades tiveram o abastecimento interrompido porque a água congelou nos encanamentos.

Mitigação
O aumento de temperatura ocorreu em todos os meses do ano. A média do Estado em 30 anos, analisada mês a mês - entre 1961 e 1990 -, revela um aumento de 0,4°C a 1,2°C de janeiro a dezembro em comparação aos 30 anos anteriores.

Brunini lembrou a necessidade de agir localmente para enfrentar um problema global, como pela recomposição das matas ciliares. Em Sorocaba, o curador do Meio Ambiente, João Alberto de Oliveira Marum, propôs a criação de um fórum para discutir formas de combater o problema. Recuperação de áreas verdes, combate a queimadas e controle da poluição emitida por veículos e indústrias estão entre as propostas.
(Por José Maria Tomazela, O Estado de S. Paulo, 03/03/2007)
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