Navegação emite duas vezes mais CO2 que companhias aéreas
emissões de co2
2007-03-07
As emissões de dióxido de carbono (CO2) da navegação são duas vezes maiores do que as da aviação e estão crescendo a um ritmo alarmante, o que provocará sérios impactos no aquecimento global, informou uma pesquisa realizada por indústrias e acadêmicos europeus.
Estudos separados sugerem que as emissões marinhas de CO2 não estão apenas maiores do que o previsto, mas podem vir a aumentar cerca de 75% nos próximos 15 a 20 anos se os negócios mundiais continuarem a crescer e nenhuma atitude for tomada.
As estatísticas da gigante BP, que possui 50 petroleiros, e dos pesquisadores do Instituto para Física e Atmosfera em Wessling, na Alemanha, revelam que as emissões anuais do transporte marítimo ficam entre 600 milhões e 800 milhões de toneladas de CO2 – ou até 5% do total global. É quase o dobro das emissões totais da Grã-Bretanha e mais do que as de toda a África.
As emissões de CO2 dos navios não estão previstas no Protocolo de Kyoto nem nas legislações européias e poucos estudos foram realizados sobre elas, apesar de estarem aumentando.
As emissões da aviação, estimadas em cerca de 2% do total global, estão na vanguarda dos debates sobre mudanças climáticas por causa do rápido aumento de vôos de baixo custo, enquanto as emissões provenientes das viagens marinhas cresceram quase tão rápido quanto nos últimos 20 anos, mas foram ignoradas pelos governantes e grupos ambientalistas. Despachos de navios são responsáveis por transportar 90% dos negócios mundiais e dobraram em 25 anos.
Donald Gregory, diretor de Meio Ambiente da BP Marinha, disse que a estimativa da companhia é de que a frota global de 70 mil navios consumam aproximadamente 200 milhões de toneladas de combustível ao ano e que a expectativa é de que cresça para 350 milhões de toneladas por ano até 2020. “Nós calculamos que as emissões de CO2 da navegação seja 4% do total global. Os navios estão ficando maiores e todas os estaleiros do mundo estão com os livros de pedidos cheios. Há cerca de 20 mil novos navios para serem construídos”, ele diz.
A estimativa apóia outros estudos acadêmicos, que até agora, foram descartados como “extremos”, porque a indústria teme uma regulação das emissões forçada caso se não for vista tratando da questão. “A Organização Marítima Internacional (IMO) precisa elaborar uma estratégia para as emissões, ou isso cairá sobre nós”, diz Gregory. “A aviação está na linha de foto agora, mas o transporte marítimo precisa assumir responsabilidade. A pressão para que se faça alguma coisa irá aumentar”.
Veronika Eyring, uma pesquisadora do Instituto de Física e Atmosfera, calcula que a frota global usou 280 milhões de toneladas de combustível em 2001 e que o consumo poderia se elevar para 400 milhões de toneladas até 2020. “A população está ficando mais atenta para o problema das emissões dos navios, mas ainda há incertezas quanto a quantidade exata de combustível que está sendo utilizada”, afirma.
Um estudo da IMO sobre os gases causadores do efeito estufa estima que as emissões da frota global aumentariam dramaticamente nos próximos 20 anos com a globalização demandando cada vez mais navios maiores e mais rápidos. IMO prevê que até 2020 as emissões dos navios podem crescer até 72% se ações não forem tomadas.
O Centro Tyndall para Mudanças Climáticas, que divulgou um estudo de dois anos sobre as emissões da navegação, diz que o problema precisa ser discutido urgentemente. “A proposrção das emissões provenientes de transporte marítimo internacional continua a receber pouca consideração dentro do governo. A navegação foi excluída na agenda de mudanças climáticas”, diz a pesquisadora Alice Bowes.
(Traduzido por Sabrina Domingos, CarbonoBrasil, do The Guardian, 06/03/2007)
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