Cerca de 1.300 mulheres da Via Campesina, a maioria organizada pelo MST e MPA, realizaram entre as 5h e 6h30 de terça-feira(06/02), quatro ocupações de terras no Rio Grande do Sul. As ações fazem parte da Jornada Nacional de Lutas das Mulheres da Via Campesina realizada na semana do 8 de março (Dia Internacional da Mulher). O lema das mobilizações deste ano é “Mulheres Camponesas na Luta por Soberania Alimentar, contra o Agronegócio”.
Segundo informações da assessoria de imprensa do MST, as mulheres ocuparam áreas de empresas no Rio Grande do Sul que tem monoculturas de árvores "para denunciar que o deserto verde está impedindo a Reforma Agrária e inviabilizando a agricultura camponesa".
Foram ocupadas áreas da Aracruz Celulose, em Santana do Livramento, da Votorantim, em Candiota, da Stora Enso, em São Francisco de Assis (na divisa com Manoel Viana), e da Boise, em Eldorado do Sul, região metropolitana de Porto Alegre. Os sem terra argumentam que juntas essas quatro empresas têm mais de 200 mil hectares de terras no Rio Grande do Sul, o que daria para assentar 8 mil famílias.
A assessoria de imprensa da Via Campesina afirma que até agora a ação não contemplou depredação ou queima das propriedades. Nenhum aviso sobre a ação teria sido repassado à imprensa anteriormente. A comunicação da coordenação dos movimentos com as áreas ocupadas é constante via telefone.
A situação esteve tranquila nos acampamentos, sendo que dois deles já haviam sido desocupados até a noite do dia das invasões. Segundo informações da imprensa, as outras duas áreas já haviam recebido ordem judicial para a desocupação.
A expectativa das mulheres é reabrir um canal de comunicação com o Incra e demais entidades ligadas à questão agrária. Elas pretendem permanecer nos locais enquanto não receberem um posicionamento do governo. Paralelamente, estão acontecendo ações do movimento contra o agronegócio em outros estados, como Pernambuco, Alagoas e Sergipe. E a expectativa é de mais protestos, desta vez na capital gaúcha, para marcar o Dia Internacional da Mulher, 8 de Março.
Elemento surpresa
Ao tomar conhecimento das ocupações, o subcomandante da Brigada Militar, tenente-coronel Paulo Mendes, prometeu agir com rigor contra as manifestantes, “sem diferença de tratamento”. A Brigada Militar (a PM gaúcha) montou barreiras nos acessos de Porto Alegre para “evitar tumultos em um possível deslocamento de militantes da Via Campesina à Capital”. Segundo a Brigada, os bloqueios e abordagens serão realizados 24 horas por dia no mínimo até quinta-feira (08/03) nas avenidas Sertório, Castelo Branco e em frente ao monumento Laçador, ao lado do aeroporto internacional Salgado Filho.
A Secretaria da Segurança alegou que tem informações de que a Via Campesina alugou “um ônibus até o dia 8 de março”, o que indicaria a possibilidade de deslocamentos para a capital. O secretário estadual de Segurança, Ênio Bacci, disse que garantirá o direito de ir e vir, mas advertiu que não permitirá irregularidades, como o ingresso na cidade com “paus, facões e armas”. Segundo Bacci, todas as ações e deslocamentos da Via Campesina serão monitorados. Ele disse que o diálogo será priorizado, mas não descartou o uso da força.
Bloqueio em Sergipe
Em Sergipe, cerca de 500 mulheres da Via Campesina fecharam, na manhã desta terça, dois pontos na BR 101: um no município de Maruim, na região norte do Estado, e outro no município de Estância, na região sul. As manifestações nas rodovias ocorreram pela manhã e terminaram por volta do meio-dia.
Centenas de trabalhadoras rurais de diversas regiões do Estado já estão acampadas em Aracaju, em uma mobilização que culminará com um ato político no dia 8 de março. No acampamento, estão sendo realizados estudos e debates sobre o impacto do agronegócio e também sobre a organização política e a elaboração de projetos produtivos para as mulheres. Nesta quarta (07/03), será realizada uma audiência pública com as autoridades do governo do Estado.
Modelo alternativo
O Dia Internacional da Mulher será marcado por manifestações em vários Estados do país. Com o lema “Feministas em luta para mudar o mundo: por igualdade, autonomia e liberdade”, os movimentos sociais pretendem levar cerca de 10 mil mulheres para a avenida Paulista, em São Paulo, no dia 8. O MST e a Via Campesina destacam, este ano, a defesa da soberania alimentar, contra o agronegócio e as transnacionais da agricultura.
Pretendem alertar para as conseqüências de que, atualmente, apenas 11 empresas (Bunge, Cargill, Dreyfus, Conagra, IBP, Nestlé e Unilever, entre elas) controlem a produção e comercialização de grãos, carnes, leite e outros alimentos. Como alternativa a esse modelo, os movimentos sociais defendem a soberania alimentar, “que defende a autonomia dos povos para decidir sobre as formas de produção de alimentos e agricultura que melhor convier à realidade nacional e local”.
Além desse tema, pretendem discutir outras questões, tais como a mercantilização e “coisificação” do corpo e da vida das mulheres e a necessidade da ampliação de direitos sociais. A coincidência da data com a vista do presidente dos EUA, George W. Bush, ao Brasil, também será marcada por manifestações contra a guerra, o imperialismo e o neoliberalismo.
(Ambiente JÁ, com informações do clicRBS,
da Agência Carta Maior e do
MST, 06/03/2007)