Enfraquecido no próprio país após a derrota eleitoral dos republicanos nas eleições de novembro passado e as catastróficas campanhas militares no Oriente Médio, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, volta-se agora para a América Latina com um apelo “ambientalista” – a promoção do etanol – e “social” - a tomar pelo seu discurso desta segunda (05/03) na Câmara de Comércio Hispânico (“Quero falar de outra prioridade para o nosso país, que é ajudar os vizinhos do Sul a ter uma vida melhor e mais produtiva... Apesar dos avanços, dezenas de milhões no nosso hemisfério continuam encalhados na pobreza e excluídos das promessas do novo século. Minha mensagem para estes ‘trabajadores y campesinos’ é que vocês têm um amigo nos Estados Unidos. Nós nos importamos com os seus problemas”).
À repentina doçura de Bush, a resposta do “Brasil das ruas”, que deve ser mantido meticulosamente longe do presidente americano pelas forças de segurança brasileiras e de seu país, será uma apoteótica manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo, garantem movimentos sociais e partidos políticos.
“O que vem fazer aqui esse carniceiro do povo iraquiano? Ele organiza um giro pelo Brasil, Uruguai, Colômbia, Guatemala e México buscando apoio para prosseguir sua política, como a vergonhosa ocupação da ONU no Haiti (com o comando das tropas brasileiras) que esmaga a soberania da nação e assassina o povo haitiano. Bush vem atrás de acordos comerciais para continuar alimentando o imperialismo estadunidense.
Depois da derrota eleitoral, Bush agora quer um consenso”, diz o documento da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), principal organizadora da passeata que, integrada às comemorações pelo Dia Internacional da Mulher neste 8 de março, se concentra às 15h da Praça Osvaldo Cruz e segue até o vão livre do Masp, onde devem ocorrer uma série de manifestações políticas e culturais.
A manifestação contra Bush no dia 8 em São Paulo, que, segundo os organizadores, deve reunir cerca de 20 mil pessoas, unificou um leque amplo de organizações e partido políticos. Além dos movimentos que constituem a CMS – MST, CUT, UNE e demais entidades estudantis, Conlutas, Marcha Mundial de Mulheres, Confederação Nacional das Associações de Moradia, Central de Movimentos Populares e demais movimentos de moradia, entre outros, PSTU, PSOL, PCB, PC do B e PT tiraram apoio oficial ao ato e estimularam seus filiados a participar.
“A posição do PT é de apoiar as manifestações e orientar os filiados a participar. A política do [presidente] Bush é nociva para a América Latina e para o Brasil. Da última vez em que esteve no Brasil, em 2005, a posição do partido foi essa”, afirma Valter Pomar, secretario de relação internacionais do PT.
Também o PC do B adotou oficialmente a posição de repúdio ao presidente dos EUA e de participação das manifestações. Segundo Altamiro Borges, secretário de comunicação do partido, “resolvemos participar por tudo que Bush representa: a política pautada no imperialismo, o belicismo, as torturas no Iraque, por ser o responsável pelo assassinato de 700 mil pessoas naquele país, por não assinar o Tratado de Quioto (contra o aquecimento global) etc”.
Sobre as negociações do governo brasileiro com Bush, Borges acredita que é função do Estado negociar com todos os países. “A negociação com os EUA é uma pauta comercial”, defende, mas acha que uma possível tentativa do americano de discutir a Venezuela é descabida. “[O presidente venezuelano Hugo] Chávez tem mais legitimidade do que Bush, que ganhou uma eleição fraudada em 2000. Mas mesmo no aspecto econômico o Brasil deve ser cauteloso, uma vez que os EUA são muito firmes na defesa de sua economia”.
Mapa das mobilizações
Além da manifestação na Paulista, entidades estudantis, sindicais e juventudes partidárias devem promover manifestações também no dia 9. A proposta é concentrar de manhã no monumento às Bandeiras, na Avenida República do Líbano, e formar um "Comando de Caça" para localizar o presidente. Se isto for possível, a idéia é seguir em passeata para onde Bush estiver, ou então para o consulado americano (Rua Henri Dunant, 500, Chácara Santo Antônio).
Participantes da Assembléia Popular, evento que reúne em São Paulo movimentos sociais de todo o estado entre 9 e 11, também devem fazer uma manifestação no dia 9, promovendo um almoço de bananas e marmitas em um Mc Donalds do centro.
Ainda no dia 8, vários movimentos sociais de outros estados devem incluir à pauta da comemoração do dia da mulher os protestos à visita de Bush.
Em Fortaleza, a CMS participa da atividade do 8 de março pela manhã com uma ala “Fora Bush”, e no período da tarde realizará a atividade da CMS, em frente ao Macdonald (Rua: Barão do Rio Branco), onde distribuirá tapioca.
Em Salvador, haverá uma manifestação "8 de março-Fora Bush às 14h, no Campo Grande. Em Goiânia, as atividades do dia da mulher acontecerão das 09 às 12h na Praça do Bandeirante e, às 20h, a CMS promove um ato “Fora Bush” na Praça Universitária.
Campo Grande realiza um ato “Mulheres pela paz. Fora Bush!” na praça Ari Coelho – centro de Campo Grande às 9h.
Porto Alegre prepara uma caminhada do 8 de março com concentração no Largo Glênio Peres das 9h às 11h e, depois, um ato político com manifestação das representações.
(Por Verena Glass,
Agência Carta Maior, 06/03/2007)