Índios rejeitam idéia de conciliação com interesses da Aracruz
2007-03-06
Não há conciliação entre o direito dos índios Tupinikim e Guarani e os interesses da Aracruz Celulose. Foi o que decidiu, por consenso, a Assembléia Geral dos povos Tupinikim e Guarani, realizada neste sábado (3/3), em Aracruz. Os índios também não aceitam a devolução do processo para a Fundação Nacional do Índio (Funai), como decidiu o ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos.
A Assembléia, que reuniu cerca de 400 índios, discutiu por quase quatro horas a luta indígena, seus resultados, posição da comunidade, projetos e encaminhamentos sobre a luta pelos 11.009 hectares de terras indígenas usurpados pela Aracruz.
Segundo a liderança indígena Jaguareté, da aldeia de Caieiras Velha, a comunidade expressou na reunião muita garra para continuar a luta. Ele disse ainda que a comunidade está tranqüila e consciente de que sem a terra indígena a comunidade nunca alcançará a liberdade e a condição para manter sua cultura e seus costumes.
Os índios agem de forma democrática e nada é feito sem comunicar e ouvir a comunidade indígena. Desta forma, todos tiveram a oportunidade de opinar sobre as formas de luta e decidiram que é necessário conversar com o presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes.
"A comunidade acha que o presidente deve esclarecer que demanda é essa do ministro da Justiça de pedir que o processo seja reavaliado para chegar a uma conciliação de interesses da empresa com os nossos direitos", ressaltou Jaguareté.
A reunião será marcada para breve. O encontro entre o presidente da Funai e os índios será marcado pela deputa Iriny Lopes (PT) e a promessa é de que isso aconteça até a próxima semana. A deputada se posicionou contrária à atitude do ministro de devolver o processo à Funai, segundo informou Jaguareté. Iriny Lopes está em Brasília e não foi encontrada para informar quando será a reunião entre as partes.
Além da questão do processo indígena contra a Aracruz Celulose, os índios discutiram ainda a sustentabilidade da comunidade, a retirada do eucalipto que está plantado na área indígena já homologada, entre outros assuntos.
Segundo os índios, tudo está sendo feito para que os índios não precisem sair da aldeia à procura de uma vida melhor. Eles querem manter as famílias unidas para resgatar e manter a cultura indígena que foi perdida com a chegada da Aracruz Celulose. Ao chegar, a empresa destruiu a Mata Atlântica na região, acabando com a caça, os rios, e consequentemente com a autonomia das comunidades indígenas.
(Por Ubervalter Coimbra, Século Diário - ES, 05/03/2007)
http://www.seculodiario.com.br/arquivo/2007/marco/05/noticiario/meio_ambiente/05_03_06.asp