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2007-03-06
As grandes potências mundiais parecem deixar de lado seus interesses políticos e econômicos divergentes, e até graves conflitos, em sua busca por fontes de energia limpa. Representantes de Brasil, China, Estados Unidos, Índia, África do Sul e União Européia informaram aos jornalistas sua disposição de iniciar um processo de cooperação para ampliar a produção e o uso de biocombustíveis. “Entendemos que dispor de fontes de energia renovável é fundamental para enfrentar os problemas sociais e econômicos”, disse Thomas Shannon, subsecretario de Estado norte-americano para Assuntos do Hemisfério Ocidental, no lançamento do Fórum Internacional sobre Biocombustíveis.

Ao inaugurar o Fórum Nacional sobre Biocombustíveis, Shannon e outros diplomatas afirmaram que esta instância permitirá criar mecanismos de intercambio entre grandes produtores e consumidores destes produtos e incentivar a criação de um mercado internacional para eles. Ao considerar o uso do combustível de origem biológica como uma alternativa econômica viável para substituir de forma imediata e parcial os de origem fóssil, os seis integrantes do Fórum observaram que sua iniciativa será útil tanto para os países pobres quanto para os industriais.

“Para as nações em desenvolvimento os biocombustíveis representam uma forma significativa de reduzir a dependência das importações de petróleo, corrigir os desequilíbrios comerciais e poupar para aumentar o gasto em saúde, educação e desenvolvimento social”, afirmou o diplomata Antonio Patriota, do Brasil, País que está na vanguarda nesta área. Além dos benefícios ambientais, o uso deste tipo de energia pode ajudar a reduzir a migração do campo para as cidades, segundo Patriota. Por outro lado, garantiria a segurança energética dos países em desenvolvimento e reduziria a dependência dos combustíveis fósseis, contribuindo para conter a emissão de gases causadores do efeito estufa, como dióxido de carbono, metano e óxido nitroso.

A maioria da comunidade científica internacional atribui o aquecimento do planeta ao efeito desses gases, produto da queima de combustíveis fósseis, como petróleo, gás e carvão em processos de transporte e industriais, e a outras ações humanas. “Os biocombustíveis têm o potencial de fomentar investimentos em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias, e acelerarão uma mudança de padrão no uso global da energia”, acrescentou Patriota.

O Brasil é o maior produtor de bioetanol, ou álcool combustível, substituto da gasolina, elaborado a partir da cana-de-açúcar. Nos Estados Unidos, esse produto é obtido principalmente do milho. E este país responde por cerca de 25% das emissões de gases que causam o efeito estufa, devido à sua excessiva dependência dos combustíveis fósseis e aos hábitos de consumo de sua população. Washington retirou sua assinatura do Protocolo de Kyoto das Nações Unidas sobre Mudança Climática, estabelecido em 1997 nessa cidade japonesa, pelo qual 35 países industrializados se comprometeram a reduzir suas emissões desses gases que levam ao efeito estufa em pelo menos 5,2% até 2012, com relação aos índices de emissão de 1990.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, pediu na quinta-feira que os Estados Unidos urgentemente encabecem a luta contra o aquecimento do planeta. Ban alertou que a mudança climática supõe para o mundo “um perigo equiparável ao da guerra”. Quase a metade do petróleo do mundo é consumido por Canadá, Estados Unidos e Europa ocidental, mas as pujantes economias da China e Índia aumentam a demanda. As nações industrializadas são de longe as principais responsáveis pelas emissões de gases causadores do efeito estufa, mas os especialistas dizem que essa situação pode mudar nas próximas décadas, pois em 2020 a China pode superar os Estados Unidos como maior emissor.

Consciente da necessidade de diversificar as fontes de energia, o vice-representante chinês na ONU, Liu Zhenmin, pareceu apoiar totalmente a visão de seu colega brasileiro sobre os biocombustíveis. “Estamos encantados por fazer parte desse fórum. É bom para melhorar o desenvolvimento de uma economia voltada para o social. Os biocombustíveis contribuirão para atenuar os efeitos da mudança climática”, afirmou. Mas ao explicar as necessidades energéticas crescentes de um país com 1,3 bilhão de pessoas, afirmou que “reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa é um projeto de desenvolvimento econômico e social de longo prazo, assim que começarmos a usar biocombustíveis, embora não seja a única fonte”.

O fórum manterá reuniões regulares durante um ano para analisar códigos e critérios internacionais para a produção e uso de biocombustíveis, infra-estrutura e logística, bem como assuntos ligados à elaboração e distribuição. Essa instância pretende elaborar um mecanismo para a troca de informação sobre a produção, utilização e comercialização dos combustíveis biológicos. Portanto, não conta com um órgão executivo. Quando a IPS perguntou a Patriota por que a Rússia, um dos maiores produtores de petróleo, não integra o Fórum, respondeu que funcionários do governo brasileiro estavam em contato com seus colegas russos e que havia indícios de que esse país acabará se incorporando à iniciativa. “Não é um clube fechado. Esperamos que no futuro outros atores unam-se a nós”, afirmou o representante do Brasil.

Por sua vez, o encarregado de negócios da delegação da Comissão Européia, Esa Paasivirta, descreveu a criação do Fórum como um “grande salto adiante”, assinalando que “ajudaria o mundo a enfrentar seus problemas ambientais. O mundo precisa de maior cooperação no tocante à mudança climática”, disse. Paasivirta acrescentou que o uso de biocombustíveis “pode contribuir para conter as emissões de gases causadores do efeito estufa”. A Índia uniu-se ao Fórum de Biocombustíveis “não apenas por questões de segurança energética, mas, também pela geração de emprego”, disse R. K. Mehta, do Ministério do Petróleo e Gás Natural desse país.

Patriota disse que o Brasil, que tomou a iniciativa de criar o Fórum, prevê organizar uma conferência internacional sobre biocombustíveis em junho de 2008. O secretário-geral da ONU adiantou que se concentrará nessas questões em junho, quando se reunir com os chefes de governo do Grupo dos Oito países mais poderosos do mundo (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália, Japão e Rússia). Além disso, a ONU tem prevista uma conferência sobre esse assunto na ilha de Bali, na Indonésia, em dezembro.
(Por Haider Rizvi, IPS, 05/03/2007)
http://envolverde.ig.com.br/materia.php?cod=28637&edt=1

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