Mares perigosos até para tubarões: em 15 anos, população diminui 80% nas águas da Europa, denunciam ONGs
2007-03-06
Apesar de no imaginário coletivo se
associarem com a morte, os tubarões são muito vulneráveis, e algumas
variedades estão em risco de extinção. Das 40 espécies de tubarões que nadam
nos mares da Europa, um terço está ameaçado pela pesca intensiva e ilegal,
esportiva e acidental, segundo a União Mundial para a Natureza (UICN). Por
isto, nos últimos 15 anos, a população destes tubarões diminuiu 80% e 20% das
espécies européias estão prestes a passar para a categoria de perigo crítico,
denunciam organizações não-governamentais européias.
“Os tubarões europeus correm sérios perigos. A superexploração pesqueira, a
caça ilegal e o corte das barbatanas são as causas dessa redução”, explicou
ao Terramérica Sonja Fordham, diretora de Políticas da Shark Alliance, uma
rede de ongs que se dedica à proteção dos tubarões. O Conselho Internacional
para a Exploração do Mar (Ices, sigla em inglês) recomenda não pescar as
espécies mielga (Squalus acanthias) e golfinho (Lamma nasus), que nadam a
nordeste do Atlântico e são as mais afetadas. A União Européia propôs
incluí-las no Apêndice da II Convenção sobre Comércio Internacional de
Espécies Ameaçadas da Fauna e da Flora Silvestres (Cites).
“O problema é uma combinação da biologia destas espécies e a pesca não
regulamentada. Não há cotas, nem limites, nem controle. A pressão pesqueira
sobre os tubarões é tão forte que suas populações não podem ser recuperadas.
Pesca-se mais tubarões do que nascem”, disse ao Terramérica a bióloga Rebeca
Greenberg, da ong Oceana, dedicada à pesquisa e conservação dos oceanos. Os
pescadores caçam estas e outras espécies de tubarões para cortar suas
barbatanas. Depois jogam seus corpos na água. As barbatanas são vendidas a um
bom preço nos mercados asiáticos e a procura aumenta ao ritmo de 5% ao ano.
Na China, por exemplo, há cerca de 380 milhões de consumidores da famosa sopa
de barbatana de tubarão. Em Hong Kong, essas barbatanas são cotadas a US$ 131
o quilo. Na Coréia e na Tailândia, a sopa custa entre US$ 150 e US$ 200. A
pesca para comercializar as barbatanas mata cem milhões de escualos por ano.
Noventa por cento das barbatanas cortadas pertencem a tubarões azuis
(Prionace glauca), cuja população diminuiu 60% no litoral do Atlântico. Em
2004, a União Européia exportou mais de 40 mil toneladas de carne de tubarão,
o que representa 40% da exportação mundial total.
A Espanha, que tem a maior frota pesqueira da Europa, exporta anualmente para
a Ásia entre duas e três toneladas de tubarão, que equivalem a um milhão de
tubarões. A Itália é o primeiro país europeu na pesca de tubarões, com 1.061
toneladas (2004). Em seguida vêm Turquia, com 1.018 toneladas, e Grécia com
911. “Se cortarem somente as barbatanas desperdiçam o resto. Os tubarões são
usados para fazer dentes, colares, cosméticos, óleo, vitaminas”, disse
Greenberg. A caça acidental também constitui uma ameaça para sua
sobrevivência. Anualmente provoca a morte de cem mil tubarões no
Mediterrâneo.
“É um problema dos tubarões de todo o mundo. Estão em risco de extinção pelas
capturas acidentais; geralmente acabam presos nas redes dos pescadores com os
peixes-espada. Não há muita informação sobre este fenômeno”, disse ao
Terramérica Marco Constantino, da filial italiana do Fundo Mundial para a
Natureza (WWF). A carne destes escualos é vendida como se fosse “pescado
fino” e acaba nos pratos europeus. Também constitui uma ameaça a caça
esportiva de outras espécies, como o tubarão mako (Isurus oxyrinchus).
A destruição de seu hábitat, sua lenta maturidade sexual – o tubarão branco
(Carcharodon carcharias) chega aos nove anos e o galhudo (Carcharhinus
plumbbeus) aos 25 – e sua baixa reprodução também os colocam em perigo. A
maioria das espécies de tubarões tem entre uma e cinco crias. O período de
gestação vai de nove a 12 meses. Os tubarões são carnívoros e predadores;
comem peixes médios, velhos ou doentes. Segundo a Organização das Nações
Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), a superexploração produz
mudanças na estrutura genética de algumas destas espécies, acelerando suas
fases de crescimento, ciclos de maturidade reprodutiva e reduzindo seu
tamanho natural.
Os escualos são mais antigos do que os dinossauros. Apareceram nos oceanos há
cerca de 400 milhões de anos. Podem ser pequenos, como o tubarão anão
(Squaliolus laticaudus), de 25 centímetros de comprimento, ou enormes como o
tubarão baleia (Rhincodon typus), de 18 metros. Atualmente, acontecem cem
ataques de tubarão, 30 deles mortais. Mas apenas quatro das 300 espécies
conhecidas (tubarões touro, tigre, oceânico e branco) atacaram as pessoas.
“É preciso mudar a idéia que se tem sobre os tubarões. Eles possuem a mesma
imagem que os lobos. Há alguns anos se pensava que os lobos matavam e eram um
perigo para os homens. E isso não é verdade. No Mediterrâneo, a possibilidade
de um ataque de tubarão é quase inexistente”, assegurou ao Terramérica a
bióloga marinha Simona Clò, do Centro de Meio Ambiente e Proteção de Espécies
Marinhas do Centro Turístico Estudantil.
(Por Francesca Colombo, Terramérica, 05/03/2007)
http://envolverde.ig.com.br/materia.php?cod=28646&edt=1