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2007-03-05
Produzir biodiesel automotivo com o que é rejeitado pela indústria frigorífica e que poderia poluir afluentes é a meta de um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Ainda em fase inicial, a pesquisa demonstra que é possível eliminar o uso de soja e mamona e utilizar gordura animal como fonte alternativa de combustível, que é menos poluente e mais barato que outras matérias-primas.

A conscientização ecológica na busca de um combustível mais limpo e independente do petróleo tem crescido no mundo todo, mas não se tinha pensado em reaproveitar um item tão desvalorizado como a gordura rejeitada. Por isso, os pesquisadores resolveram apostar na idéia da gordura animal e desde o início do ano passado fazem testes e adaptações para produzir biodiesel.

“Focamos na gordura descartada por frigoríficos e óleos usados por famílias e restaurantes para fritura, porque seriam ideais pelo perfil de Santa Catarina”, destaca um dos coordenadores do projeto, professor Marintho Bastos Quadri. A pesquisa começou usando o óleo de soja, por ser mais limpo e homogêneo. “Estávamos começando os estudos e precisamos usar um material menos variável”, explica a engenheira química e doutoranda da UFSC Adriana Costa, responsável pela purificação dos componentes.

A gordura animal começou a ser testada primeiramente com os produtos vendidos no mercado, por serem mais estáveis. Na próxima etapa, os resíduos de gordura animal, principalmente suínos, serão colocados no laboratório. Para transformar o produto em biodiesel, os pesquisadores precisam separar a glicerina da gordura. “A viscosidade tanto do óleo vegetal quanto da glicerina prejudica o motor. É como se deixássemos uma panela de fritura sem lavar. Num primeiro momento, o combustível funciona bem, mas depois entupiria os bicos injetores”, compara Adriana.

O primeiro processo da produção é o da flotação, uma decantação em que a parte líquida fica em baixo e a gordura sobe com as bolhas de ar. Depois é preciso retirar a glicerina, que forma 20% da gordura. “A própria queima da glicerina é nociva e não permitida”, explica Adriana. Este processo, chamado de reação de transeterificação, tem dado trabalho aos pesquisadores da UFSC. Para fazer esta purificação geralmente se usa água, que depois deve ser retirada do combustível.

No caso da gordura animal, a separação é mais difícil e outros agentes como resina de troca ionica ou adsorvente precisam ser testados para substituí-la. “Com o agente adequado poderemos fechar um ciclo renovável completo”, diz a engenheira química, sem revelar o segredo. Depois de realizar as pesquisas e testes, o biodiesel produzido na UFSC passa por novas provações, até estar adequado às especificações da Agência Nacional do Petróleo (ANP).

Um fórum para o biocombustível
Brasil, África do Sul, China, Estados Unidos, Índia e a União Européia devem criar o Fórum Internacional de Biocombustíveis, conforme anúncio feito na sexta-feira (2/3) na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. O objetivo, segundo o Ministério das Relações Exteriores brasileiro, é aumentar a eficiência na produção, na distribuição e no consumo dos biocombustíveis em escala mundial.

De acordo com os acertos iniciais, durante um ano os integrantes do fórum discutirão medidas para ampliar a produção dos biocombustíveis sem destruir o meio ambiente nem comprometer a produção de alimentos. Além disso, os países trabalharão em conjunto para que os combustíveis feitos a partir de vegetais, como cana-de-açúcar, milho, soja ou mamona, sejam cada vez mais utilizados em todo o planeta.

O fórum também ajudará a organizar a Conferência Internacional de Biocombustíveis, que deverá ocorrer no Brasil em 2008. “O biocombustível é uma fonte de energia mais limpa, barata e que gera renda no campo”, explicou o diretor do Departamento de Energia do Itamaraty, Antonio Simões. Segundo o Balanço Energético do Ministério de Minas e Energia de 2006, 44,7% da energia produzida no Brasil provém de fontes renováveis, que incluem, além do etanol e do biodiesel, as usinas hidrelétricas. A média mundial, conforme o mesmo balanço, está em torno de 15%.

Para Simões, a união de esforços será importante para ampliar a participação dos biocombustíveis na matriz energética mundial. “Enquanto a produção de petróleo se concentra em 15 países, existem mais de 120 países com potencial para explorar o biocombustível”, estima. Inicialmente, vão ser criados dois grupos de trabalho. Um deles discutirá a troca de informações sobre pesquisas científicas e inovações tecnológicas no desenvolvimento de biocombustíveis. O outro grupo definirá especificações mínimas para a comercialização desses produtos. O diretor do Departamento de Energia do Itamaraty negou que o Fórum Internacional dos Biocombustíveis vá exercer o mesmo papel da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), que reúne os maiores produtores de petróleo para regular os preços.
(Por Débora Remor, A Notícia - SC, 05/03/2007)
http://www.an.com.br/2007/mar/05/0ger.jsp

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