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2007-03-05
As ervas daninhas não são mais o terror dos agricultores. Apesar de ainda carregarem má fama, uma pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) está tratando de reparar esta visão equivocada. Coordenado por dois professores do Departamento de Engenharia Rural, ligado ao Centro de Ciências Agrárias (CCA), o projeto "Entendendo os princípios ecológicos para o desenvolvimento e disseminação do plantio direto orgânico" mostra que, além de mais saudável, é mais vantajoso optar pelo manejo da "vegetação residente" – não mais chamada de erva daninha – do que utilizar herbicidas para combatê-la.

Agroecologia
Partindo de uma visão agroecológica, o objetivo do projeto é substituir o uso de herbicidas pelo manejo da vegetação residente. Apesar do financiamento e da parceria norte-americana, a pesquisa é totalmente realizada no Brasil. Os experimentos são feitos em estações da Epagri em Campos Novos e Ituporanga. Em Ituporanga, aliás, além de experimentos são realizadas reuniões entre os pesquisadores e grupos de agricultores, que nelas compartilham as suas experiências com o manejo da vegetação residente. Cada um apresenta a sua "receita" e destas conversas surgem as alternativas que melhor se adaptam ao microclima da região.

Segundo o professor do Departamento de Engenharia Rural e um dos coordenadores da pesquisa, Paulo Emilio Lovato, a idéia central do projeto é justamente propor um diálogo de saberes entre os próprios agricultores e entre os agricultores e os pesquisadores. "O agricultor é um experimentador, mas, na visão convencional, ele não procura o fundamento, só vai por tentativa e erro. Os pesquisadores vão então procurar os princípios que explicam as práticas que estão dando certo." O objetivo, entretanto, não é de que os pesquisadores entendam o mecanismo dos processos que estão funcionando e depois apenas repassem aos agricultores como determinado método deve ser aplicado. De acordo com Lovato, o agricultor deve partilhar da construção deste conhecimento. "O projeto pretende que o agricultor aprenda a fazer fazendo e compreendendo."

Tapete de palha
Henrique Bittencourt, pesquisador do Departamento de Engenharia Rural e mestrando em Agroecossistemas pela UFSC, estudou o método de plantio direto e manejo de vegetação residente de uma plantação de feijão em Campos Novos. O "passo-a-passo" do plantio é um bom exemplo da aplicação prática da pesquisa. Em abril é plantada a vegetação de cobertura, formada por aveia forrageira, ervilhaca e nabo forrageiro. Ela vai servir para controlar a vegetação residente e aumentar a qualidade do solo. Em setembro, a vegetação de cobertura é derrubada para que não produza sementes, formando um tapete de palha sobre o solo que inibe o desenvolvimento da vegetação nativa.

Sobre este tapete de palha, máquinas adaptadas para o sistema são usadas para fazer o plantio. Quanto menos se mexer na palha, melhores serão os resultados. Segundo o professor Jucinei José Comin – também do Departamento de Engenharia Rural e, junto com o professor Lovato, coordenador do projeto – os agricultores ainda discutem entre si qual o tempo ideal para esperar que a palha seque para poder plantar. A média, segundo ele, fica em torno de duas semanas. No final de fevereiro é feita a colheita. Entre fevereiro e abril – no intervalo entre a colheita e a época de recomeçar a plantar a vegetação de cobertura – o terreno é roçado para manter baixa a vegetação residente.

Vantagens
De acordo com o professor Lovato, além de ser melhor para o meio ambiente e para a saúde de pessoas e animais, o manejo da vegetação nativa tem outras vantagens. Em primeiro lugar, o agricultor gasta menos e ganha mais autonomia, pois passa a ser dono de sua própria tecnologia. E, apesar de exigir um trabalho mental e manutenção diários, a cultura vai exigir apenas um terço da força braçal necessária para cuidar de uma plantação convencional, mesmo a que utilize herbicidas.

O projeto é realizado em pequenas propriedades familiares que, junto com a agricultura de base ecológica, são os focos do Centro de Ciências Agrárias da UFSC. Além dos professores Lovato e Comin e do mestrando Bittencourt, a equipe é formada por quatro agrônomos da Epagri, outros dois mestrandos em Agroecossistemas da UFSC e um bolsista de iniciação científica, também da universidade.

O projeto iniciou em 2005 com o programa Capes/Fipse de intercâmbio entre estudantes de graduação da UFSC, Unicamp, Universidade da Califórnia em Berkeley e Universidade de Nebraska em Lincoln. Através do programa, iniciado no começo de 2003 e encerrado no final de 2006, a proposta foi elaborada e submetida à análise da fundação norte-americana Warsh Mott Legacy CS Fund. Com o apoio financeiro da fundação, foi firmada a parceria entre a UFSC, a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) e a Universidade da Califórnia para execução dos estudos.
(Por Daniel Ludwich, Agecom, 03/03/2007)
http://www.carbonobrasil.com/noticias.asp?iNoticia=18083&iTipo=8&idioma=1

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