Apesar de pressão, negociações sobre mudança climática param
2007-03-03
Governos do mundo todo estão avançando pouco nos esforços para dar
seqüência ao Protocolo de Kyoto, um acordo de combate ao aquecimento global,
disseram especialistas. O protocolo expira em 2012.
A falta de avanços se verifica mesmo diante da crescente preocupação da
opinião pública com as mudanças climáticas e os alertas da ONU, de que o
problema representa uma ameaça de dimensões semelhantes às de uma guerra.
"Não estamos vendo os governos dizerem: ´Sim, vamos adotar novas
obrigações"´, afirmou uma autoridade da ONU a respeito das negociações
patrocinadas pelo Secretariado das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas.
Os maiores especialistas do mundo em questões climáticas chamaram atenção
para a necessidade de agir ao divulgarem, no mês passado, um relatório
segundo o qual há 90% de certeza de que atividades humanas, principalmente as
que envolvem a queima de combustíveis fósseis, são responsáveis pelo
aquecimento da Terra.
Rajendra Pachauri, presidente do painel de clima da ONU, afirmou que continua
difícil prever o impacto político do documento, que também alertou sobre o
perigo de, nos próximos séculos, o nível dos oceanos aumentar e de se
intensificarem fenômenos como as secas e as enchentes.
Em um encontro marcado para dezembro, em Bali (Indonésia), ministros do Meio
Ambiente vindos de vários países devem acertar o início de negociações para
prorrogar, para além de 2012, o Protocolo de Kyoto, um acordo selado sob o
patrocínio da ONU.
Mas mesmo essa meta pode estar ameaçada. Muitas empresas desejam clareza a
respeito de quais serão as regras para depois de 2012, a fim de que possam
programar investimentos de longo prazo.
Obrigações
"Ninguém está disposto a falar sobre obrigações ou mandatos", disse uma
autoridade da ONU. "Agora, a melhor perspectiva parece ser a de que, em Bali,
seja selado um acordo sobre o âmbito das negociações futuras."
Ainda assim, as pressões da opinião pública continuam a aumentar.
E a Alemanha, atual presidente tanto da União Européia (UE) quanto do Grupo
dos Oito (G8), transformou o aquecimento da Terra em uma questão de destaque.
Na quinta-feira, 1º, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou que os
perigos impostos pela guerra à humanidade "no mínimo equivalem" às ameaças
representadas pelas mudanças climáticas.
O maior problema nas negociações sobre a questão é que os países que mais
emitem gases de efeito estufa - os EUA, a China, a Rússia e a Índia - não
estão entre os maiores defensores de uma ampliação e prorrogação do Protocolo
de Kyoto, medida defendida pelos países europeus e pelo Japão.
No entanto, muitos congressistas americanos, entre os quais alguns
republicanos, estão pressionando o presidente do país, George W. Bush, para
que aceite a limites obrigatórios à emissão de gases causadores do efeito
estufa.
Limites desse tipo formam a base do Protocolo de Kyoto, pelo qual 35 países
ricos comprometeram-se a diminuir, entre 2008-2012, suas emissões a níveis 5%
mais baixos que os registrados em 1990.
(Por Alister Doyle, Reuters, 02/03/2007)
http://www.estadao.com.br/especial/global/noticias/2007/mar/02/163.htm