Se não forem tomadas medidas para deter o ritmo atual de desmatamento, a cobertura florestal na Amazônia brasileira deve perder 2,1 milhões de quilômetros quadrados até 2050 — uma área maior que a do México. Isso significaria redução de 39% em relação ao patamar atual e de mais de 50% em comparação à cobertura original, de pouco mais de 6 milhões de quilômetros quadrados. A avaliação é de um estudo feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e divulgado pelo Ministério do Meio Ambiente.
O relatório, chamado Mudanças Climáticas e seus Efeitos sobre a Biodiversidade Brasileira e coordenado pelo climatologista José Marengo, é um dos oito trabalhos encomendados pelo ministério em 2004, para pautar políticas públicas que diminuam os efeitos do aquecimento global no Brasil. Eles analisam os efeitos das mudanças climáticas sobre a biodiversidade brasileira, fazem um levantamento da variação climática do país nos últimos anos e projetam os possíveis comportamentos do clima até 2100.
“Se o avanço da fronteira agrícola e da indústria madeireira for mantido nos níveis atuais, a cobertura florestal poderá diminuir dos atuais 5,3 milhões de quilômetros quadrados (85% da área original) para 3,2 milhões de quilômetros quadrados em 2050 (53% da cobertura original)”, afirma o documento, divulgado na terça-feira (27/02).
O estudo aponta ainda que a temperatura da Amazônia poderá aumentar, até 2100, entre 3 e 8 graus Celsius. “O aquecimento global vai aumentar as temperaturas na região amazônica, e pode deixar o clima mais seco, provocando a savanização da floresta. Os níveis dos rios podem ter quedas importantes e a secura do ar pode aumentar o risco de incêndios florestais”, avalia.
Se o cenário se confirmar, a Amazônia ficará com um clima semelhante ao do Cerrado (que ocupa 2 milhões de quilômetros quadrados, o equivalente a 20% do Brasil). “Essa ‘Amazônia seca’ possui vegetação com maiores índices de evapotranspiração, e seus solos tendem a ficar mais secos durante os meses sem água do que solos de regiões muito úmidas, e isso a torna muito mais vulnerável a incêndios florestais, o principal agente de conversão de floresta em savana”, destaca o documento.
O estudo cita ainda um relatório publicado em 2006 pela organização não-governamental WWF (World Wildlife Found) que aponta que, caso haja uma elevação de 3 graus Celsius na temperatura global, 40% da floresta amazônica poderá se transformar em Cerrado. Mas o documento faz uma ressalva e aponta que existem “incertezas” em relação a essa possibilidade, apesar de elas serem confirmadas por um outro estudo publicado em 2004. Ele menciona ainda que outras pesquisas realizadas na mesma época estimaram que o desmatamento e o aquecimento poderiam converter uma faixa ainda maior da Amazônia: 60% se tornariam Cerrado.
O desmatamento da região, se não diminuir, poderá, junto com o aquecimento global, afetar o clima de outras regiões, como o semi-árido nordestino — justamente a região brasileira que concentra alguns dos piores indicadores sociais do Brasil. “As temperaturas podem aumentar de 2ºC a 5ºC no Nordeste até o final do século 21. A Caatinga será substituída por uma vegetação mais árida. O desmatamento da Amazônia pode deixar o semi-árido mais seco. Com o aquecimento a evaporação aumenta e a disponibilidade hídrica diminui. O clima mais quente e seco poderia levar a população a migrar para as grandes cidades da região ou para outras regiões, gerando ondas de ‘refugiados ambientais’”, afirma o estudo.
As oito pesquisas foram financiadas por seis instituições: o Ministério do Meio Ambiente, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (Bird), o Instituto Interamericano de Mudanças Globais e o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, na sigla em inglês) — do qual o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) é um dos administradores.
(Por Talita Bedinelli,
Agência PNUD, 28/02/2007)