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2007-03-01
Durante milhões de anos após se separar da África, a América do Sul permaneceu isolada como se fosse uma enorme ilha no Atlântico, fazendo com que a fauna e a flora da região Amazônica se desenvolvesse com características muito diferentes dos demais continentes. Também houve um tempo em que o rio Amazonas tinha seu fluxo do leste para o oeste e desaguava no Pacífico, o contrário do que ocorre hoje.

O livro "Quando o Amazonas corria para o Pacífico: uma história desconhecida da Amazônia", de Evaristo Eduardo de Miranda, pesquisador da Embrapa Monitoramento por Satélite, unidade da Empresa Brasileira da Pesquisa Agropecuária, em Campinas (SP), detalha características da região desde os primórdios de sua formação geológica e da presença de animais e, depois, de humanos.

O autor da obra, que será lançada nesta quinta-feira (01/03), na capital paulista, conta que poucos predadores habitavam a América do Sul antes da inversão do curso do rio. Os primeiros felinos chegaram justamente após o Amazonas mudar seu fluxo em direção ao Atlântico.

“Com a formação do istmo do Panamá, uma espécie de ponte terrestre que ligou as Américas, esses animais começaram a chegar na América do Sul e impactaram profundamente a fauna da Amazônia, há cerca de 2,5 milhões de anos”, disse Miranda.

O trabalho se baseia em artigos e estudos científicos sobre a Amazônia realizados por pesquisadores de diversos países. Foram consultados resultados de trabalhos recentes publicados em diferentes áreas do conhecimento, em títulos científicos nacionais e estrangeiros.

Um dos estudos, apresentado em outubro de 2006 na reunião anual da Sociedade Geológica Norte-Americana, na Filadélfia, concluiu que há milhões de anos o fluxo do Amazonas já foi do Atlântico para o Pacífico, ou seja, o contrário do que ocorre hoje. A pesquisa foi feita por Angela Leguizamon Veja e Afonso Nogueira, do Departamento de Geociências da Universidade Federal do Amazonas, e Russell Mapes e Drew Coleman, da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos.

Alterações na biodiversidade
Abrangendo um período que começa há 60 milhões de anos e termina em 1750, o livro está dividido em três partes. A primeira conta a história natural da Amazônia, com uma síntese da formação de sua fauna e flora. A história da presença humana antes da chegada dos europeus é relatada na segunda parte e a terceira apresenta a história política da região e sua incorporação definitiva ao Brasil.

O autor observa que os espanhóis, primeiros colonizadores da Amazônia, cujo controle era legitimado pelo Tratado de Tordesilhas, não foram capazes de dominar a região. “Enquanto os espanhóis eram tidos como ‘conquistadores’ e vieram para explorar ouro e prata, os portugueses, considerados ‘povoadores’, envolveram-se com os indígenas e conseguiram ocupá-la definitivamente”, disse

Para Miranda, que estuda a Amazônia há mais de 25 anos e visitou uma série de museus e institutos de pesquisa estrangeiros para escrever o livro, muitas pessoas hoje a imaginam como uma espécie de “éden”, um lugar que sofreu poucas transformações humanas e naturais.

“Trata-se da região mais antiga do Brasil. Mas, apesar de aparentemente ser um dos biomas mais preservados do planeta, a floresta amazônica é um dos lugares que mais vêm sendo alterados pela colonização humana e pelas mudanças em sua biodiversiddade”, afirmou.

Um dado histórico curioso é que, no século 16, os portugueses chegaram a contratar cartógrafos para que os mapas que limitavam a região fossem alterados sem que ninguém notasse. “Isso fez parte da estratégia geopolítica da coroa portuguesa de conquistar a Amazônia e incorporá-la ao território brasileiro. Essa ocupação não foi obra do acaso. Foi uma decisão continuada que passou de dinastia para dinastia em Portugal”, disse Miranda.

O lançamento de Quando o Amazonas corria para o Pacífico: uma história desconhecida da Amazônia será realizado a partir das 19h, na livraria Fnac Paulista (Avenida Paulista, 901), em São Paulo.
(Por Thiago Romero, Agência Fapesp, 01/03/2007)

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