Expedição ártica vai demonstrar impacto do aquecimento sobre os grupos Inuit
2007-02-28
Não são apenas os ursos polares que estão vendo o gelo sumir debaixo de seus pés. O derretimento do Ártico por causa ao aquecimento global também está minando o estilo de vida humano no extremo Norte – é o que afirma um grupo de pesquisadores que embarcou em uma expedição guiada por cães que percorrerá 1.930 quiilômetros.
O projeto ‘Global Warming 101’, liderado pelo explorador polar norte-ameriano Will Steger, tem por objetivo enfatizar como o mundo tradicional da comunidade Inuit está quase literalmente se despedaçando. A expedição de quatro meses teve início no sábado (24), e segue em direção à Baffin Island, na província Canadense de Nunavut.
O grupo de Stenger contará com a presença do milionário inglês Sir Richard Branson e de três caçadores Inuit, que guiarão os trenós. Membros do grupo postarão vídeos, fotos, sons e anotações de campo diariamente no site do projeto. O projeto é financiado em parte pelo Conselho de Expedições da National Geographic.
“A Baffin Island seria o marco zero do aquecimento global no Ártico,” diz Steger. A ilha ártica, quinta maior do mundo, possui uma cultura extremamente rica, segundo o explorador. “E como as morsas e os ursos polares, esta cultura depende do gelo”, acrescenta.
Clima “louco” no Ártico
Ao longo das últimas décadas, as temperaturas no Ártico têm aumentado quase o dobro da taxa equivalente ao resto do mundo, dizem os cientistas. Em seu último relatório sobre o aquecimento global, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima (IPCC) alegou que a cobertura mínima de gelo durante o verão da região diminuiu cerca de 7,4% por década desde de 1970. Grandes áreas do Oceano Ártico podem estar desprovidas de gelo até o final do século, alertou o painel.
Steger, há 40 anos como explorador polar, é testemunha de tais mudanças. “O clima está muito mais variável,” disse ele. “Temos mais sol, mais nuvens, mais tempestades, um tempo simplesmente louco. Experimentamos muito disso tudo neste inverno”, conta. E adiciona: “Está um calor fora do comum”.
No momento da entrevista realizada pela National Geocgraphic, Steger disse que a temperatura se encontrava em cerca de 23 graus Fahrenheit (-5°Celsius). Normalmente seria de cerca de – 20° Fahrenheit (-29°C), disse ele.
Steger diz que o Ártico está provavelmente se aquecendo mais rápido que os outros locais do mundo, pois as primaveras adiantadas e os outonos mais atrasados têm reduzido o período de tempo em que a neve e o gelo cobrem extensivamente a região.
“As áreas reflexivas da neve e do gelo agiam como um espelho, refletindo a luz do sol (e com isso o calor) para o espaço”, afirma. Menos gelo significa que a superfície e a água absorvem mais calor.
Para documentar a maneira com que tais mudanças estão afetando as culturas locais, a expedição irá viajar em direção ao norte da costa leste da Baffin Island antes de cruzar as montanhas centrais e seguir mais ao leste.
Pelo caminho, o time pretende passar uma semana em cada uma das cinco comunidades Inuit. “Estas pessoas estão intuitivamente ligadas aos seus arredores e têm bons registros em suas histórias orais do que o inverno já foi,” disse Steger. “Cada comunidade tem uma história diferente".
Erros Fatais
Os três caçadores Inuit que estão guiando o time já estão conscientes das ameaças, disse Steger. A vila-natal deles, Iglulik, última parada da viagem de Steger, perdeu sete caçadores devido ao afinamento do gelo nos últimos 18 meses.
A intuição destes e dos outros caçadores do Ártico (baseada em sinais tradicionais, como a direção do vento) está sendo fatalmente minada pela rápida mudança do clima, acredita. “Os caçadores saem para o gelo e parece que será seguro. Mas na verdade não é, o vento aumenta e o gelo quebra”, conta. “Eles cometem erros fatais. Seus conhecimentos tradicionais simplesmente não funcionam mais".
Além do aumento dos perigos, as oportunidades de caça no gelo têm diminuído com a redução dos invernos, informa o site do ‘Global Warming 101’. Caribous, morsas, focas, e peixes são os recursos tradicionais das comunidades árticas. No entanto, cada vez mais gente tem que depender dos mercados, afirma Steger.
Richard Branson deve se juntar ao grupo por três semanas durante os últimos 480 quilômetros da expedição. Recentemente, Branson anunciou um prêmio de 25 milhões de dólares para a primeira pessoa que desenvolver uma maneira efetiva e econômica para reduzir o aquecimento global.
O empresário bilionário espera que a expedição ‘Global Warming 101’ contribua para o aumento da conscientização sobre as incertezas, riscos e efeitos das mudanças climáticas antes que seja tarde demais para salvar alguma coisa da nossa herança congelada nos pólos.
(Por Fernanda Müller, do CarbonoBrasil, traduzido do National Geographic News, 27/02/2007)
http://envolverde.ig.com.br/materia.php?cod=28383&edt=11