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2007-02-28
Todos os dias, ao sair de casa rumo ao campo, Ousmane Soro se pergunta o que acontecerá este ano com suas colheitas de batatas, cana-de-açúcar e manga, e se poderá satisfazer as necessidades de sua família. Este agricultor da aldeia de Ouaraa, na localidade de Ferke, na Costa do Marfim, não é o único sob o impacto destas preocupações. “Durante vários anos vimos diminuir nossa produção agrícola. A degradação do solo piora e as chuvas diminuem de maneira constante”, disse Soro. Em 2001, Ferce registrou apenas mil milímetros de chuva. Em 2005, caiu para 800 milímetros, e no ano passado chegou a 700 mm.

Isto não é propício para as colheitas, já que cria uma situação onde “o solo carece de água”, disse Hermann Kassi, conselheiro agrícola no norte para a Companhia de Algodão da Costa do Marfim. Há apenas cinco anos, Ferkel teve a melhor produção do norte. “Colhemos 180 mil toneladas de manga, quase a mesma quantidade de caju, 150 mil toneladas de cana-de-açúcar e 90 mil toneladas de algodão. Também tivermos milhares de cabeças de gado e aves”, contou Kassi. Agora, os agricultores produzem 80 mil toneladas de manga, cem mil de castanha de caju e 115 mil de cana-de-açúcar, segundo a Cooperativa de Produtores Agrícolas de Ferke.

A produção de cereais caiu de quase 1,8 milhão de toneladas em 2001 para menos de 1,3 milhão em 2003, o que levou a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação a disparar o alarme. O Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCAH) da Organização da ONU também expressou sua preocupação pela situação alimentar na Costa do Marfim, qualificando-a de crítica, particularmente no norte e no ocidente, ambas as áreas sob controle de rebeldes. Este país ficou dividido em um norte dominado por insurgentes e um sul controlado pelo governo após o falido golpe de Estado de 19 de setembro de 2002.

Segundo a ICAH, desde maio de 2003 as chuvas estiveram abaixo da média em todo o país, prejudicando a produção de milho e sorgo no norte e a de milho no sul. Neste contexto, os agricultores começaram a abandonar as plantações comerciais em favor do cultivo de subsistência, com o qual também esperam ganhar algum dinheiro, disse Kassi. Mas não há nenhuma garantia de que isto permitirá levar um prato de comida à mesa, alertou Máxime Kablan, da Agência Nacional para o Desenvolvimento Rural. “As previsões de produção para arroz e milho podem não se concretizar por causa do atraso das chuvas e à sua escassez”, acrescentou.

“Atingimos uma etapa crítica. Não há outra coisa a fazer a não ser incentivar e apoiar as mulheres que cultivam arroz no norte do país”, disse a agroeconomista Véronique Brou. Está proposta tem apoio da não-governamental Ação, Gênero, Desenvolvimento Econômico e Social, com sede em Abidjã. “Nos encontramos em uma situação delicada que pode desembocar em estado de fome se nada for feito”, alertou Brou Kouam, presidente dessa organização, Kablan também questionou certas práticas de comunidades rurais do norte. “Aqui há numerosos incêndios florestais sem controle, que anualmente consomem segmentos de terra virgem”, afirmou.

O resultado é que os brotos que nascem na temporada das chuvas são reduzidos a cinzas na estação seca. “Isto torna praticamente impossível a regeneração das árvores da floresta”, ressaltou. Segundo Brou, todos os lares rurais usam lenha para suprir suas necessidades de energia, enquanto 90% da população urbana na savana setentrional usa madeira ou carvão.
(Por Fulgence Zamblé, da IPS, 27/02/2007)
http://envolverde.ig.com.br/materia.php?cod=28368&edt=1

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