A Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) possui cerca de 22,5 mil clientes residenciais no município. Neste montante não é de se estranhar contas altas, mas nada que supere a "sede" dos 50 caingangues que vivem às margens da RS-130. O hidrômetro deles é o que registra o maior consumo entre todos os clientes residenciais da companhia no município. A conta de R$ 4 mil mensais também é a mais salgada de todas. Nos trimestre o consumo saltou de 200 mil litros mensais para 500 mil litros.
Para o gerente da Companhia Rio Grandense de Saneamento (Corsan) de Lajeado, Paulo Ricardo Maria da Silva, o montante daria para abastecer um prédio de 40 a 50 apartamentos. Vistoria realizada pela Corsan apontou utilização incorreta e falhas estruturais no acampamento. "Além do desperdício existem diversos vazamentos." A situação coloca pelo ralo dinheiro público, já que a conta dos caingangues é paga pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa).
O cacique da tribo, Dilor Gates (41), afirma que os índios procuram racionar a água e que a falta de infra-estrutura é a responsável pelo alto consumo. "Nossa rede de água é feita de mangueiras que estão aqui há quatro anos. Com o tempo elas estragam." Ainda ontem Gates teve uma reunião na Procuradoria-Geral da República, na qual apresentou o problema. O Informativo do Vale esteve ontem no acampamento e constatou a existência de diversos vazamentos.
A competência pelo conserto dos vazamentos é da Funasa. Conforme o engenheiro responsável pelas Ações de Saneamento em Áreas Indígenas no RS, Carlos Alberto Brito Loureiro, o problema deve ser sanado ainda hoje. Ele afirma que a única conta que veio com cifras fora do comum foi a última, ocasião em que se constatou o desperdício.
Parte do desperdício ocorre em função da precariedade no acampamento. A instalação da rede de água foi feita pelo próprio cacique da tribo. A única benfeitoria coube à Corsan, que instalou uma torneira logo que os índios chegaram ao local. "Como eles ficariam só por alguns meses não foi feito nada além. Só que o tempo passou e eles permaneceram", lembra Silva.
Por ser um acampamento, a Funasa não pode realizar obras de infra-estrutura. A informação na coordenação estadual do órgão é de que melhorias só ocorrem quando a tribo recebe área em caráter definitivo.
O alto custo da conta de água dos índios de Lajeado contrasta com a economia dos caingangues de Linha Glória, interior de Estrela. Há seis anos, através de recursos do governo do Estado e de doações, foi escavado um poço artesiano, que abastece mais de cem pessoas. "Dele tiramos a água para banho, lavar roupa e cozinhar", enumera a cacique da tribo, Maria Soares. O único gasto é de R$ 400 mensais, que fica por conta da energia elétrica utilizada pelo motor do poço, paga pela Funasa.
Uma pessoa utiliza em média de cem a 150 litros de água por dia. No mês o montante gira entre três e quatro mil litros. Até o final do ano passado o consumo mensal dos 50 indígenas (200 mil litros) estava dentro da média. Agora, com os 500 mil litros, um caingangue utiliza em um mês o que outra pessoa leva mais de dois.
Com a conclusão de oito casas a ser construídas pela prefeitura provavelmente no próximo mês, a conta de água dos caingangues deve baixar novamente. Conforme o secretário de Obras e Abastecimento, Mozart Lopes, cada uma das residências terá água encanada, mas o hidrômetro será um só. "Acredito que com a infra-estrutura adequada haja um consumo correto, mas fiscalizar não compete à prefeitura."
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O Informativo do Vale, 28/02/2007)