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2007-02-28
No dia 1º de março será lançada no Palácio da Descoberta, espaço de exposições científicas no centro de Paris, a quarta edição do Ano Polar Internacional (IPY, da sigla em inglês), programa mundial de pesquisa para estudar os ambientes dos pólos Ártico e Antártico.

Mais de 200 projetos coordenados por milhares de pesquisadores de 64 países serão desenvolvidos entre março de 2007 e março de 2009. Realizado a cada 50 anos desde 1882, o IPY é organizado pelo Conselho Internacional para a Ciência (ICSU) e pela Organização Meteorológica Mundial (WMO).

De acordo com Edith Fanta, professora da Universidade Federal do Paraná e integrante do comitê brasileiro do Ano Polar Internacional, muitas das alterações ambientais observadas hoje podem estar relacionadas com as mudanças que ocorrem nas regiões polares. Para entendê-las, é preciso estudar seus aspectos físicos, biológicos e sociais.

Presidente da Comissão para a Conservação dos Recursos da Vida Marinha na Antártica, ela estuda há 25 anos a biologia integrativa de peixes antárticos e tropicais e o impacto ambiental e de poluentes em peixes e sistemas de áreas protegidas para conservação da biodiversidade.

A pesquisadora coordenará, durante o IPY, três projetos sobre como os peixes da região antártica teriam evoluído e quais espécies tiveram a capacidade de lidar com o degelo e a redução da salinidade do mar, entre outras alterações decorrentes do aquecimento que ocorreu nos últimos 50 anos. Tudo isso relacionado ao comportamento alimentar das espécies.

Em entrevista à Agência Fapesp, Edith falou da importância do reconhecimento internacional dos projetos brasileiros e da abrangência do IPY, tanto em relação aos temas dos projetos como de sua abordagem multidisciplinar.

Agência Fapesp - Que tipo de alteração no ambiente polar pode ter influência nas mudanças do clima da Terra?
Edith Fanta - Os dois pólos comandam uma série de fenômenos em todo o planeta. No Ártico e no hemisfério Norte está havendo um problema muito sério de aquecimento e de desaparecimento de gelo em certas partes e, com isso, uma mudança na evolução de vegetação e de animais. É um fenômeno cíclico em termos planetários. A área da península antártica também está esquentando e isso poderá ter conseqüências principalmente para os animais. No lado oposto da península ocorre um resfriamento. E a região antártica influi no clima de todo o hemisfério Sul.

Agência Fapesp - O último Ano Internacional ocorreu entre 1957 e 1959. O conhecimento atual sobre as regiões polares pode estar muito atrasado?
Edith Fanta - A ciência pode fazer incomparavelmente mais hoje em dia. Há desenvolvimento tecnológico para isso, construiu-se muito conhecimento, tanto nas ciências da vida como na física, na climatologia e em outras áreas. Hoje se sabe muito sobre a Antártica, região muito relacionada com o Brasil em termos de clima. A idéia principal do Ano Polar é que se tenha, a cada 50 anos, uma fotografia do estado em que estão essas duas regiões nos níveis humano, físico, químico, geológico, porque tudo isso tem implicações na capacidade de a vida continuar em todo o planeta.

Agência Fapesp - O que a ciência pode fazer?
Edith Fanta - A beleza do Ano Polar está em desenvolver projetos multidisciplinares para estudar todos os aspectos de perguntas centrais dos pesquisadores. Esse é um pré-requisito para que o projeto seja aceito. Outra condição é que o projeto forme pesquisadores. Essa forma de trabalhar é fundamental para um melhor entendimento sobre como evitar a intervenção humana em regiões que sofrem as conseqüências do que acontece fora delas.

Agência Fapesp - Como funcionarão os projetos no Ano Polar?
Edith Fanta - Muitas equipes farão expedições para desenvolver projetos. Eu estou envolvida em três grandes projetos. Um deles é sobre evolução e biodiversidade na Antártica, outro é uma expedição à região subantártica, para estudar se os organismos que vivem na zona de transição entre os climas temperado e antártico já têm adaptações à região fria ou se estão mais parecidos com os de clima temperado. O terceiro é um levantamento circumpolar do krill [crustáceo parecido com o camarão que aparece em grande quantidade na Antártica]. O que interessa são os peixes associados a esses cardumes de krill, pois eles têm adaptações especiais que queremos estudar comparativamente com outros peixes, como os que vivem na baía do Almirantado, que fica na ilha Rei George, na península Antártica.
(Por Fernando Cunha, Agência Fapesp, 28/02/2007)

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