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2007-02-26
Há dois anos, Sami Grover, um inglês com preocupações ambientais, havia decidido que faria sua última viagem de avião. Entretanto, um romance de verão na Carolina do Norte, Estados Unidos, acabou transformando-se em um relacionamento amoroso à distância- e, claro, em muitas viagens por sobre o Atlântico.

Para compensar as toneladas de gases-estufa lançadas na atmosfera por causa das viagens do casal, Grover começou secretamente a pagar para que a empresa inglesa Climate Care ajudasse a fazer com que o mundo ficasse um pouco mais verde para ele e sua amada. "Eu não queria que ela pensasse que era uma espécie de ecoxiita", disse Grover, de 28 anos. "Fiz aquilo pelos vôos dela também, mas em segredo".

Grover não pode mais ser chamado de fanático ambiental. Com efeito, agora ele está no centro de um mercado amadurecido, onde pessoas podem comprar e vender o direito a neutralizar suas pegadas ecológicas, produzidas por atividades diárias, como dirigir um carro, usar fraldas descartáveis e até viajar em jatos pelo Atlântico para namorar.

Carbono amadurecido
Em nossos dias, estrelas do mundo pop, executivos-chefes e políticos estão todos se vangloriando das formas que encontram para neutralizar suas emissões de carbono: plantio de árvores ou pelo investimento em projetos de energia renovável- a maioria em países pobres da África ou na Índia.

A devoção das celebridades pelo tema, como o primeiro-ministro britânico Tony Blair e os músicos da banda Coldplay, está ajudando a gerar uma publicidade para as empresas desse mercado de neutralização do carbono. Essas companhias estão conseguindo, além de ativar esse mercado pura e simplesmente, aumentar o número de consumidores conscientes na Europa e nos Estados Unidos.

Essas operações refletem uma nova consciência sobre as mudanças climáticas globais, apesar de cientistas e ambientalistas alertarem que o mercado de carbono atual pode produzir poucos benefícios reais para o ambiente.

"Essas companhias podem operar com o melhor que existe no mundo, mas elas estão fazendo isso em um formato onde não fica claro se será possível monitorar e aprimorar esses projetos ao longo do tempo", disse Steve Rayner, professor da Universidade de Oxford e membro do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança do Clima, na sigla em inglês). "O que essas firmas estão fazendo é manter o padrão de consumo das pessoas e deixá-las com a consciência limpa."

Algumas empresas que vendem a neutralização do carbono começam a concordar que certos investimentos como o plantio de árvores podem ser mesmo ineficientes, e elas estão mudando o foco para aquilo que parece ser atividades realmente produtivas: turbinas eólicas, sistemas limpos de queima de combustível ou a compra de créditos de empresas.

Como a demanda por um modo de vida mais verde aumenta, o número de empresas que pulam para esse jogo está tendo uma multiplicação rápida. Em 2006, pelo menos 60 companhias venderam o equivalente a US$ 110 milhões para consumidores na Europa e na América do Norte. Em 2005, de acordo com Abyd Karmali, da ICF Internacional, algo ao redor de 12 empresas participaram desse processo, que movimentou o equivalente a US$ 6 milhões.

Com esse mercado fortalecido, a questão cada vez mais presente é sobre a efetiva colaboração ou não de certos projetos.

A empresa Climate Care, por exemplo, optou por financiar um projeto na África do Sul que serviria para distribuir 10 milhões de lâmpadas fluorescentes, que poupam energia. Entretanto, logo depois que o programa começou, uma companhia energética estatal distribuiu lâmpadas semelhantes de graça. "Ou seja, o serviço ambiental vendido pela empresa aos seus clientes seria feito da mesma forma", disse Larry Lohman, da ONG britânica Corner House.

O representante da empresa, Michael Buick, reforça a importância do trabalho: segundo ele, o projeto continua válido porque as pessoas vão conseguir gastar menos dinheiro com eletricidade.

A divergência de visões sobre o que realmente funciona para limitar a mudança climática tem ofuscado várias dessas iniciativas, especialmente em países mais pobres, nos quais as empresas têm tentado montar projetos de compensação.

Alguns consumidores estão pensando duas vezes sobre usar ou não a neutralização de emissões. No mês passado, em Davos, Suíça, Larry Page, um dos fundadores do Google, mencionou que seu sócio Sergey Brin tem usado o mecanismo para ajudar a reduzir o impacto climático produzido pelo uso do Boeing 767 da dupla.

Quando questionado, Brin disse que ele era cético quanto à eficácia da compensação. "Eu acho que ela faz alguma coisa, mas eu buscaria algo mais especializado e pessoal" em vez de se fiar somente nas compensações de carbono que, na época, "eram a coisa mais expedita que eu poderia fazer."
(Por James Kanter, do New York Times/Folha de São Paulo, 25/02/2007)
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe2502200702.htm

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