Morte de peixes em Pelotas e Capão do Leão terá nova investigação da Fepam
2007-02-23
A Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) vai iniciar nova fase de investigação sobre a morte de 40 toneladas de peixes nos arroios Moreira e Fragata, entre Pelotas e Capão do Leão, no final do mês de janeiro. Conforme o gerente regional da Fepam, Francisco Finger, as novas análises têm como foco os efluentes orgânicos das indústrias que contornam a região onde ocorreu o acidente.
As novas avaliações devem reacender a polêmica sobre a presença de poluentes nas águas do arroio e podem sepultar o primeiro relatório emitido pela Fundação, no qual são apontadas causas naturais como o motivo do acidente ambiental. “Faremos um estudo para ver a capacidade de suportação do arroio, para saber se as águas realmente têm condições de suportar todos os efluentes orgânicos que são ali depositados”, disse Finger.
A data de início dessa nova etapa de investigação, no entanto, ainda está indefinida. O biólogo Jackson Müller, que liderava a equipe técnica no caso, foi demitido do cargo de diretor-técnico da Fepam. Interinamente, quem exerce a função é a engenheira química Marília Barum, que, segundo a assessoria da Fundação, não poderia conceder entrevistas. De acordo com Francisco Finger, estava marcada uma reunião para esta semana, que acabou sendo cancelada. “Agora não sei quando será, temos de remarcar. Mas o certo é que haverá uma continuidade no trabalho”, disse.
Questionado sobre a controvérsia que estes novos resultados podem trazer ao laudo preliminar anunciado no início de fevereiro, Finger ressaltou que a posição da Fepam nunca foi definitiva. “Naquele primeiro momento, não se constatou nada de poluição, mas não se descartou o conhecimento que tínhamos desta possibilidade. Isso não é de hoje, é de anos”, afirmou.
Enquanto as investigações estão paradas, o Ministério Público (MP) articula intervir no caso para levantar mais dados e resolver as divergências sobre a real causa do problema. De acordo com o promotor público Paulo Charqueiro, existe um projeto conjunto entre o MP e o Escritório de Perícias Técnicas e Ambientais da Universidade Católica de Pelotas (UCPel) para analisar a situação. “Já remetemos um relatório para a Fepam sobre este trabalho e pedimos para eles os resultados daquele laudo que foi divulgado. Vamos pegar as conclusões e confrontar as duas”, disse Charqueiro.
As informações do relatório preliminar apresentado pela Fepam e pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), no início do mês, dizem que o desastre ambiental foi resultado de uma conjugação de fatores, como baixa vazão, piracema vigorosa e estiagem prolongada.
No fim do mês passado, 40 toneladas de peixes apareceram mortos nas águas do arroio Fragata/Moreira. Em meio a especulações sobre altos índices de salinização e a presença de poluentes no local, a Fepam divulgou um laudo apontando que a mortandade era decorrência de causas naturais. Como base para o resultado, foram utilizadas análises em indústrias e propriedades das redondezas, na água e nos animais mortos.
No último dia 16, o diretor-técnico da Fepam, Jackson Müller, foi afastado do cargo que ocupava há 11 meses. Embora a assessoria do órgão tenha alegado que o motivo da saída foi um pedido de férias não-aceito pela direção, o biólogo declarou dias depois ter sido coagido a pedir demissão pelo presidente Renato Breunig. Breunig teria ameaçado divulgar um falso dossiê com provas de ligação entre Müller e a Utresa - empresa que figura como maior responsável pelo desastre no Rio dos Sinos, analisado pelo biólogo.
Müller entrou com uma ação contra Breunig junto ao Ministério Público e acusou o presidente de defender interesses econômicos, por ter atuado como advogado da empresa Utresa em 2001, através do escritório Breunig & Associados.
(Diário Popular, 22/02/2007)
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