Geleira no Peru desaparecerá em cinco anos
2007-02-23
O aumento da temperatura terrestre causará o desaparecimento da geleira peruana Qori Kalis dentro de cinco anos, em uma das maiores provas da atual mudança climática, assegurou na quinta-feira (15/02) um cientista americano. Em uma apresentação realizada na reunião anual da Associação dos Estados Unidos para o Avanço das Ciências, em San Francisco (Califórnia), o paleontólogo Lonnie Thompson apresentou sua conclusão, resultado de um estudo da geleira que durou mais de três décadas.
A geleira andina Qori Kalis é parte da Quelccaya, a maior massa de gelo existente nos trópicos. Thompson afirmou que, desde 1974, visitou pelo menos 27 vezes a Quelccaya para realizar perfurações, recolher amostras sedimentárias e observar sua evolução.
Segundo ele, como conseqüência da diminuição de sua massa, foram sendo descobertos restos vegetais enterrados há pelo menos 5 mil anos. Estes resíduos indicam que o atual desaparecimento da massa de gelo supera qualquer outro que tenha ocorrido em pelo menos 50 séculos, assinalou.
Thompson afirmou que a diminuição da massa do Quelccaya, e o desaparecimento da geleira Qori Kalis representam um risco imediato para a população próxima. Em conseqüência do degelo, nos últimos anos se formou um profundo lago contido por uma represa natural.
Em março do ano passado, se desprendeu um pedaço da geleira, que caiu no lago e lançou uma massa de água sobre a represa, que inundou totalmente o vale. Fatos como este não teriam ocorrido antes de 1991, pois, até então, esse lago não existia.
Mas o degelo não ocorre somente no Peru, mas também na Groenlândia, no Himalaia e na África, segundo Thompson. O cientista assinalou que, na última década, a geleira Jakobshan, que contém 6,5% da massa total de gelo da Groenlândia, duplicou sua velocidade de derretimento.
Segundo Thompson, a temperatura média atual é apenas alguns graus mais baixa que a do período interglacial, há 125 mil anos atrás, quando o degelo aumentou os níveis marítimos em quase seis metros. Em 2001, Thompson previu que as famosas neves do monte Kilimanjaro, na Tanzânia, desapareceriam em 15 anos, devido ao aumento das temperaturas.
Segundo o cientista, é possível que seus prognósticos tenham sido conservadores. "No Kilimanjaro está ocorrendo o mesmo que nos montes Quênia e Rwenzori, ambos na África, assim como nas geleiras dos Andes e do Himalaia", afirmou.
Além dos efeitos geofísicos da mudança climática, Thompson assinalou que são preocupantes também as conseqüências do desaparecimento das geleiras sobre a vida de milhões de pessoas.
O cientista acredita que cerca de 50% da superfície terrestre está entre os 30 graus norte e 30 graus sul do Equador, e que lá vive 70% da população mundial. Também é nessa região onde se geram fenômenos climáticos como as monções, os furacões e o El Niño. "Basicamente, se trata do motor climático do mundo", afirmou.
"Estas geleiras estão condenadas a desaparecer. Milhões de pessoas vão ter que se adaptar a estas mudanças, muitas das quais ocorrerão nas regiões mais pobres do mundo", diz Thompson.
(Ecodebate/Portal G1/EFE, 21/02/2007)
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