Morador de Guaíba que sobrevive com venda de lixo reciclável investe no sonho de formação em Educação Física
2007-02-22
A cada papel ou garrafa de plástico que recolhe das ruas dos bairros Cohab e Santa Rita, em Guaíba, o catador e estudante de Educação Física Mauro Ribeiro Cardoso, 25 anos, repete a frase: "Não há dificuldade que me derrube".
Hiperativo, órfão de mãe e filho de pai carroceiro, Mauro percebia ser desacreditado por quem se aproximasse dele. Era só dizer que sonhava em cursar uma faculdade para ouvir gargalhadas.
- Ninguém acreditava que eu pudesse chegar a algum lugar - conta.
Depois de abandonar os estudos na 5ª série, em Viamão, Mauro chegou a passar um tempo ao lado de amigos "barra pesada", como costuma dizer. Ao voltar a morar com o pai, em Guaíba, o rapaz percebeu que poderia usar a hiperatividade a seu favor.
Começou a trabalhar como catador e concluiu o supletivo do Ensino Médio. Em 2002, fez as provas do Exame Nacional do Ensino Médio. Dois anos depois, foi selecionado pelo Programa Universidade Para Todos (ProUni) para cursar Educação Física na Ulbra, em Canoas.
No dia em que faria a matrícula na universidade, Mauro foi atropelado. Ficou 20 dias internado no Hospital Cristo Redentor, na Capital. No ano passado, sem dinheiro para o transporte, chegou a dormir numa das salas da universidade e foi flagrado pelos seguranças. Há dois meses, teve furtados os poucos móveis que tinha, as roupas doadas por colegas, os livros do curso. Até a casa onde morava sozinho na vila Ipê - uma peça de madeira - foi desmontada e levada pelos ladrões. Com a ajuda de amigos, ele alugou uma casa de três peças no Jardim Santa Rita.
- Quanto mais as cobras me picam, mais me fortaleço - diz.
Mauro ganha cerca de meio salário mínimo com o lixo recolhido, vende rapaduras nos finais de semana e participa de um projeto de pesquisa do Ministério dos Esportes, pelo qual recebe uma bolsa R$ 300 mensais. Comunicativo, ele costuma usar computadores comunitários para acessar a Internet. Mauro ainda afirma que lê pelo menos três jornais por dia. No final deste ano, deve concluir o curso de Educação Física. Ele tem planos de fazer especialização em Motricidade Infantil:
- Quero ser professor para passar às crianças minha vontade de crescer.
(Zero Hora, 22/02/2007)
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