Um estudo feito por pesquisadores da Bahia e do Rio de Janeiro levou ao desenvolvimento de uma nova metodologia para identificar metais pesados no solo, informação importante para indicar a necessidade de prevenção ou intervenção em áreas contaminadas.
Segundo os autores do trabalho, das universidades federais da Bahia (UFBA) e Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), os valores de referência para identificação de metais pesados não costumam levar em conta o tipo de solo analisado, fator que consideram importante por influir exatamente na variabilidade desses indicadores.
“De acordo com alguns valores de referência utilizados pelas companhias de saneamento, o teor de determinado metal pode indicar a necessidade de intervenção humana, por exemplo, enquanto na realidade esse mesmo teor poderia ser um valor natural do solo”, disse Nelson do Amaral Sobrinho, professor titular do Departamento de Solos da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Os resultados do trabalho foram publicados na Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental.
O trabalho se baseou nos valores de referência utilizados para a identificação do cádmio (Cd), cobalto (Co), cromo (Cr), cobre (Cu), níquel (Ni), chumbo (Pb) e zinco (Zn), “Alguns tipos de solos brasileiros têm propriedades específicas que fazem com que a concentração desses metais seja naturalmente mais elevada, sem que isso chegue a ser prejudicial”, disse Amaral.
Os pesquisadores selecionaram as principais características físicas, químicas e mineralógicas dos solos capazes de influenciar nos valores de referência, entre elas os teores de argila, manganês, ferro e a capacidade de troca catiônica (CTC), parâmetro empregado na descrição dos minerais argilosos. “Essas são as propriedades do solo que mais influenciam na concentração natural dos metais pesados”, explica Amaral.
Em seguida, 81 perfis diferentes de solos foram analisados, dos quais 27% eram argissolos e 42% latossolos, as duas classes mais representativas de solos no Brasil. Cambissolos, luvissolos, nitossolos e planossolos também foram estudadas.
Em função das características dos solos, eles foram divididos em sete grupos e novos valores de referência foram denominados. Um exemplo é o cádmio (Cd), cujo valor de referência é de 0,5 miligrama por quilo nas tabelas das companhias de saneamento ambiental – o valor de prevenção desse metal é 1,3 mg/kg e o de intervenção é 3 mg/kg. Pela nova metodologia, os tipos de solo que se enquadram no grupo 4, por exemplo, suportam valores entre 0,3 mg/kg e 1,8 mg/kg.
“Se o teor de cádmio de um solo do grupo 4 estiver acima do valor de prevenção (1,3 mg/kg), a área em análise passaria a ser considerada preocupante, mas consideramos que se trata de um solo que está dentro da normalidade por se enquadrar em um grupo que suporta até 1,8 mg/kg”, explica.
Com isso, os limites de tolerância para os metais pesados, aponta Amaral, podem ser calculados de acordo com os grupos de solos, de modo a fornecer parâmetros mais precisos para a interpretação dos resultados em áreas com suspeita de contaminação.
(Por Thiago Romero,
Agência Fapesp, 15/02/2007)