EUA admitem descumprir meta de Bush para uso do etanol
2007-02-22
Os Estados Unidos não vão cumprir a meta sugerida pelo presidente George W. Bush para ampliar expressivamente a produção de etanol na próxima década, disse na quarta-feira (21/02) um órgão público responsável por previsões energéticas. Em discurso no mês passado ao Congresso, Bush disse que gostaria que dentro de dez anos o país estivesse produzindo 132,5 bilhões de litros anuais de combustíveis alternativos, sendo a maior parte álcool derivado de restos agrícolas, e não de milho, como atualmente fazem os EUA.
Mas uma nova previsão de longo prazo divulgada nesta semana pela Administração de Informação Energética (EIA, na sigla em inglês) aponta uma produção anual de etanol de apenas 43,5 bilhões de litros em 2017. "O que o presidente disse no discurso do Estado da União não é o que estamos projetando", disse um funcionário da agência, que participou da redação do relatório, mas pediu anonimato.
Bush diz que a meta de 132,5 bilhões de litros é factível porque a maior parte do etanol seria produzido de fontes de celulose como talos de milho, "switchgrass" (tipo de gramínea), aparas de madeira e outros resíduos agrícolas, sem recorrer a culturas alimentares, como o milho, principal fonte do etanol norte-americano atualmente.
Mas a EIA, que goza de independência em relação ao Departamento de Energia, prevê que 94 por cento do etanol disponível nos EUA em 2017 ainda será feito de milho, enquanto 2 por cento serão de outras fontes de celulose e os 4 por cento restantes serão etanol importado e feito de outras fontes, como a cana-de-açúcar do Brasil.
A previsão se baseia em leis e regulamentos atualmente em vigor, junto com as verbas prometidas pelo governo para pesquisas. Ela não reflete os avanços tecnológicos que Bush previu no Congresso, segundo a fonte da EIA. Não se sabe de onde Bush tirou a estimativa de 132,5 bilhões de litros, e a EIA não analisou esse plano, disse o funcionário.
"Não fomos convidados a fornecer esses conselhos. Não fizemos um cenário com 132,5 bilhões de litros por ano em 2017", disse a fonte. Bush vem fazendo várias viagens para promover seu plano do etanol desde o discurso de janeiro. Na quinta-feira, ele vai à Carolina do Norte para insistir na meta, mesmo com a divulgação da nova previsão.
Assim como a EIA, muitos especialistas questionam se a tecnologia poderá reduzir o custo da produção de etanol de celulose e um nível rentável. O secretário norte-americano de Energia, Sam Bodman, disse em recente audiência parlamentar ter ficado preocupado ao ouvir Bush anunciar no Congresso a meta dos 132,5 bilhões de litros de etanol por ano, mas que no dia seguinte ficou aliviado ao visitar com o presidente uma unidade de pesquisas da DuPont para testemunhar avanços no setor.
Uma fonte do Departamento de Energia disse na quarta-feira que Bodman continua otimista com a meta de Bush. "Com investimento suficiente e com a engenhosidade norte-americana, podemos ver avanços na tecnologia", disse ele. A Casa Branca não comentou o relatório da EIA.
(Por Tom Doggett, Reuters, 21/02/2007)
http://noticias.uol.com.br/ultnot/reuters/2007/02/21/ult729u65027.jhtm