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2007-02-16
A demanda de alimentos orgânicos está crescendo tão rapidamente que, em alguns países como a Alemanha, já supera a oferta, impulsionando a globalização do comércio. Esta é uma das constatações feitas na Biofach, a maior feira mundial do setor, que reúne 2455 expositores de 80 países, desde ontem (15/2) e vai até domingo (18/02), em Nurembergue.

O Brasil participa com 46 instituições e entidades empresariais, algumas das quais trouxeram grupos de pequenos produtores à feira. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o país tem 20 mil agricultores orgânicos, 70% atuando como empreendimentos familiares.

Um deles é Sebastião Petry, pioneiro do setor em Antônio Carlos (SC) e que participa pela primeira vez da Biofach, junto com uma delegação da prefeitura e do governo estadual. "O que se vê aqui é o resultado da transferência da sabedoria do quintal da vovó para a agricultura industrializada", compara.

Nicho de mercado
Ele e mais ou menos 100 dos mil agricultores do município voltaram a cultivar a terra do jeito que o fizeram os antepassados alemães, que chegaram à região da Grande Florianópolis em 1828: sem agrotóxicos ou adubos químicos.

Petry diz ter descoberto o nicho do mercado verde há oito anos, num momento em que estava perdendo freguesia na venda de hortifrutigranjeiros produzidos de forma convencional. E isso, explicaca, foi sua salvação não só financeira. "Se eu não tivesse passado para a produção orgânica, talvez nem estivesse mais vivo", diz.

A maioria dos sete mil habitantes de Antônio Carlos vive da produção convencional de 350 mil toneladas anuais de frutas, verduras e hortaliças, destinadas à capital catarinense e às praias próximas. Mas quem imagina uma população com saúde de ferro por trás do verde das lavouras pode estar enganado.

Riscos da produção convencional
"O número de casos de câncer, sobretudo de pele, aumentou muito nos últimos anos", diz Petry. Ele acredita que isso se deva ao contato dos agricultores com "venenos muito fortes". O assunto também preocupa o prefeito Ivens Scherer, que já contratou um técnico agrícola para "orientar os produtores a usar os agrotóxicos na medida certa e a respeitar os prazos de carência até a colheita".

Na opinião de Petry, o uso excessivo de agrotóxicos na lavoura convencional não só compromete a saúde dos produtores e consumidores, como também freia a expansão da agricultura orgânica. "Tem agrotóxico que fica 30 anos na terra. Por isso, há muito solo no Brasil que está morto para a agricultura orgânica. Ainda bem que temos muitas áreas não contaminadas", diz.

A primeira impressão de Petry na Biofach é de que o Brasil tem produtos orgânicos de qualidade equiparável com países como a Alemanha. Ele acredita que, se não fosse a rígida fiscalização européia, não seria difícil exportar alguns dos 78 itens produzidos por sua empresa, entre eles saladas processadas, legumes em natura e em conserva, raízes e mel.

"A maior dificuldade é a comercialização, é obter o selo de comprovação de que o produto é orgânico. Além disso, falta incentivo financeiro do governo para quem quiser abandonar a agricultura convencional e optar pela verde. Não é como na Alemanha", diz.

Boom de orgânicos na Alemanha
Estande da feira de orgânicos em NurembergueAgricultores alemães que fazem essa opção recebem, por dois anos, um auxílio-ponte a fundo perdido do governo. Isso tem feito com que a renda deles, em parte, até supere a dos agricultores convencionais, embora seus lucros estejam em queda.

O mercado alemão de orgânicos cresceu 15% no ano passado, atingindo um faturamento de 4,5 bilhões de euros. Os 17 mil produtores do setor geram cerca de 160 mil empregos e cultivam 810 mil hectares, o equivalente a 4,3% da área agricultável do país.

Estima-se que 20% a 30% dos orgânicos comercializados na Alemanha sejam importados. Dois fatores levaram a demanda a superar a oferta nacional: grandes redes de supermercados – como Aldi e Lidl – abriram espaço para esses produtos, e muitos agricultores dormiram no ponto.

"Nos últimos anos, foram poucos os agricultores que aderiram aos orgânicos. Muitos são imediatistas e não querem esperar dois anos, o prazo mínimo para despoluição do solo e reestruturação da produção. Outros ainda não acreditam no novo mercado", diz Ethelbert Babl, da Secretaria de Agricultura da Baviera.
(Deutsche Welle, 15/02/2007)
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,2352402,00.html?maca=bra-uol-all-1387-xml-uol

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