PCH Santa Fé (ES) causa danos enormes e gera só três empregos
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impactos de hidrelétricas
2007-02-16
A Pequena Central Hidrelétrica (PCH) Santa Fé gerará apenas três empregos durante seu funcionamento. A afirmação foi feita ao jornal A Palavra, do município de Alegre, onde os moradores reclamam dos danos ambientais e sociais que o empreendimento trará à região.
A obra, de responsabilidade da Energias do Brasil (Energest) e Castelo Energética S.A (Cesa), é avaliada pelos agricultores locais como um grande perigo para a sustentabilidade da região, já que secará 8 km do rio Braço Norte Esquerdo, afluente do rio Itapemerim. Os moradores ameaçam impedir a construção do empreendimento.
Segundo as informações dadas à comunidade, a PCH reteria 99,5% do volume do rio, reduzindo a vazão de oito quilômetros para apenas meio por cento do volume atual, deixando a comunidade sem abastecimento para suas atividades e sem sustentabilidade econômica e ambiental.
Segundo ambientalistas, esse represamento do rio diminui acentuadamente a oxigenação da água, prejudicando a fauna aquática da região. Espécies acostumadas à água corrente têm dificuldades em se adaptar à água quase parada de um lago e a migração dos peixes e sua desova ficam prejudicados. Em muitos casos, a dificuldade para subir o rio para a desova, em virtude das barragens e represas, ameaça a multiplicação de algumas espécies.
A conseqüência é uma notável diminuição na quantidade e na qualidade dos peixes, o que causa prejuízos às populações ribeirinhas que têm na pesca a principal fonte de alimentação e atividade econômica.
Em reunião realizada no último dia 8/2, em Alegre, a empresa Castelo Energética S.A chegou a afirmar que a única forma de o empreendimento ser levado adiante é com a retenção de 99,5% da vazão do rio. Na avaliação da Secretária Executiva do Consórcio Caparaó, Dalva Ringuier, isso geraria o desaparecimento do rio. E, por conseqüência, o desemprego dos agricultores da região.
Ainda sim, a promessa é de que 350 empregos sejam garantidos durante a construção que durará 22 meses. Depois disso, além dos desempregados da obra, haverá ainda os agricultores e pescadores prejudicados com o trecho do rio que ficará seco.
A obra custará R$ 90 milhões e deverá ser iniciada somente depois que a licença de instalação seja emitida pelo Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema), mas no que depender dos moradores, se não houver mudanças na proposta dos empreendedores, não haverá PCH na região.
A promessa da empresa para seduzir a comunidade, além dos 350 empregos na fase de construção é da doação de energia para a Escelsa sem custo adicional no seu preço de venda.
Segundo os moradores, além dos danos ambientais e sociais já citados, eles temem ainda os prejuízos causados na área inundada. Segundo eles, há um plano de controle ambiental que prevê reflorestamento no entorno do empreendimento, mas não há nada a respeito das espécies que serão inundadas na região e principalmente sobre a fauna que poderá não se adaptar ao novo meio.
Caso parecido ocorre devido à construção da PCH São Pedro, na região do rio Jucu. Lá 6,1 quilômetros de um dos principais rios que abastecem a Grande Vitória ficará reduzido drasticamente. E os moradores também lutam pela não construção da PCH.
Segundo a avaliação dos ambientalistas, os empresários vêm buscando o Estado para a construção das PCHs, antes levadas para Minas Gerais, já que os mineiros estão repudiando as construções devidos os danos ambientais causados a região.
As PCHs são justificadas pelos empreendedores como uma garantia de mais energia para os capixabas e despertando a preocupação dos Comitês de Bacias Hidrográficas e do Conselho Estadual de Recursos Hídricos, devido à forma que vêm sendo aprovadas.
A preocupação sobre a construção das PCH no Estado é grande e crescem a cada dia as reclamações dos comitês sobre a falta de participação do órgão nas decisões sobre tais empreendimentos. Os ambientalistas lembram ainda que os Comitês das Bacias Hidrográficas (CBH), considerados fundamentais para a aprovação desses empreendimentos, quase nunca são ouvidos nos processos.
A situação hídrica no Estado é crítica. O rio Jucu, responsável por abastecer a Grande Vitória, já possui 50% de sua produção captada para o abastecimento doméstico e de indústrias. Vila Velha também se encontra em estado de alerta. O município não pode mais crescer industrialmente, por não possuir água suficiente para isso.
A falta de água causada pela degradação dos rios também afeta o município da Serra. Este município retirava seu abastecimento do Rio Santa Maria, mas, atualmente, é obrigado a buscar água rio Reis Magos. Os mangues, segundo os ambientalistas, também sofrem com a falta de água doce, o que vem prejudicando o desenvolvimento de sua biodiversidade.
As PCH construídas de forma descontrolada causam assoreamento, prejudicam a fauna dos rios e a vida das comunidades ribeirinhas. Ao todo, estão previstas a construção de mais 11 PCH no Espírito Santo.
(Por Flávia Bernardes, Século Diário - ES, 15/02/2007)
http://www.seculodiario.com.br/arquivo/2007/fevereiro/15/noticiario/meio_ambiente/15_02_08.asp