Pesquisador da UFRGS defende que zoneamento para eucalipto deve ser seguido pelas empresas de celulose
2007-02-16
As grandes empresas de celulose instaladas no Rio Grande do Sul pressionam para que a
Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) faça mudanças no Zoneamento Ambiental para o
Licenciamento da Silvicultura. O documento de cerca de 250 páginas traz informações sobre a
fauna e a flora gaúchas e faz restrições ao plantio de eucalipto e pínus em determinadas
áreas.
Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor), representando principalmente os
interesses da Votorantim, Stora Enso e Aracruz, afirma que o zoneamento vai prejudicar os
investimentos na Metade Sul do Estado. Prefeitos da Associação dos Municípios da Zona Sul
(Azonasul) pretendem realizar um seminário em março, para discutir com a Fepam e com a
Ageflor as mudanças no documento. O órgão ambiental do Governo do Estado já adiantou que
poderá fazer modificações que beneficiem as indústrias.
Para o pesquisador do Instituto de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), Ludwig Buckup, o zoneamento apresentado em dezembro pela Fepam é completo e precisa
ser seguido pelas empresas.
"A gente nota que há uma preocupação de se fazer um zoneamento que leve em conta as
peculiaridades ambientais do espaço meridional do Estado, com as áreas apropriadas e não
apropriadas para o plantio. Acho que é um documento que deve ser seguido mesmo. Mas é claro
que as indicações que estão naquele zoneamento conflitam com o interesse das empresas, de
plantar onde querem e como querem, e com cobertura do governo", diz.
O zoneamento ambiental da Fepam dividiu o Rio Grande do Sul em 45 regiões, indicando desde a
existência de sítios paleontológicos e comunidades quilombolas, e restringindo o plantio em
áreas de preservação ambiental, banhados e morros testemunho.
As empresas querem diminuir a distância permitida para o plantio e liberar o cultivo em
áreas rochosas, entre outras mudanças. Para o professor Buckup, o que está ocorrendo é uma
corrida perigosa pelo desenvolvimento econômico da Metade Sul, sem levar em conta os danos
ambientais que serão causados pelos monocultivos.
"As empresas, no seu propósito, não acenam com nenhuma medida que realmente leve em conta a
preservação ambiental. Elas querem plantar e colher, não importa onde nem como e a que
custo. Os custos ambientais eles desconhecem, não querem. As manifestações, especialmente da
Ageflor, são todas neste sentido. O que importa é aquilo que tem sido anunciado, até pelo
governo, do resgate econômico da Metade Sul a qualquer custo, nem que seja o custo
ambiental. Por isso, a única alternativa que existe agora é que o zoneamento ambiental seja
respeitado, e de que forma alguma seja prorrogado o Termo de Ajustamento de
Conduta".
As empresas também pressionam para prorrogar o prazo do Termo de Ajustamento de Conduta
(TAV), proposto pelo Ministério Público Estadual, que liberou o plantio de eucalipto e pínus
temporariamente.
(Agência Chasque, 15/02/2007)
http://www.agenciachasque.com.br/boletinsaudio2.php?idtitulo=5c7f8998c8d2817dd51273b38d033cc