Produção de etanol do Brasil é 'excepcional', mas não serve para todos, diz presidente do Bird
2007-02-16
O presidente do Banco Mundial (Bird), Paul Wolfowitz, disse que a produção brasileira de etanol é de uma ''eficiência excepcional'', mas frisou que o modelo brasileiro ''pode não ser bem-sucedido em outros lugares''.
O comentário de Wolfowitz foi realizado na quarta-feira (14/2), durante um jantar para os participantes do Fórum de Legisladores sobre Mudanças Climáticas, um evento que está sendo realizado em Washington, com a participação de parlamentares e empresários de diversos países, entre eles Brasil, Estados Unidos, União Européia, Rússia, Índia, China e Japão. O Banco Mundial é um dos organizadores do evento.
''Há um ano, tive a oportunidade de visitar uma usina de etanol nos arredores de São Paulo, onde eles estão produzindo etanol em larga escala e com eficiência excepcional. É fácil entender porque os biocombustíveis estão no topo da agenda do presidente Lula'', afirmou Wolfowitz.
Mas o presidente do Bird acrescentou que ''sabemos que o que é bem-sucedido no Brasil pode não ser bem-sucedido em outros lugares. É difícil reproduzir a formidável capacidade de produção e as condições naturais do Brasil, mas é algo que deve ser tentado''.
Wolfowitz disse acreditar que as condições presentes no Brasil para produzir etanol são semelhantes às de nações africanas.
''Pode haver países da África que contam com a combinação perfeita de clima, terras e chuvas que poderiam fazer dos biocombustíveis uma possibilidade concreta''.
Energia limpa
Segundo o presidente do Bird, os aumentos de preço do petróleo tiveram um custo para os países africanos equivalente a entre 3,5% e 4% de seus PIBs.
Ele acrescentou que ''existem usos melhores para esses recursos. Em vez de importar combustíveis fósseis, este dinheiro poderia ser usado para investir em inovações que nos permitirão atender às nossas necessidades energéticas com menos danos para o meio ambiente''.
Wolfowitz comentou que investir em formas de ''energia limpa'' representa ''diversificar fontes de energia, para que sejamos menos dependentes do fornecimento feito por partes instáveis do mundo. Significa que diversificar nossos gastos com energia para que coloquemos mais dinheiro na mão dos produtores de cana no Brasil ou apoiemos novos cultivos na África''.
O presidente do banco frisou que o órgão está investindo em projetos em diferentes partes do mundo para reduzir a emissão de gases poluentes, através de investimentos em fontes de energia renováveis.
''Atualmente, estamos fazendo esforços nesse sentido na China, no México, no Brasil e na Rússia, assim como na Letônia, Bulgária e Ucrânia''.
Participação brasileira
O Brasil participa do fórum sobre meio ambiente com dois representantes, a senadora Serys Slhessarenko (PT-MT) e o senador José Renato Casagrande (PSB-ES).
De acordo com Casagrande, o fórum está servindo para que o Brasil faça ''as articulações necessárias'' e deixe claro que ''temos responsabilidades comuns, mas que os países desenvolvidos têm muito mais responsabilidade que nós''.
O senador afirmou que o Brasil não pretende seguir uma ''política vingativa'' e promover desmatamento, ''como fizeram os países desenvolvidos''. Por isso, comentou, cabe às nações desenvolvidas ceder tecnologia e oferecer compensações a países em desenvolvimento, para que ''possamos manter nossas florestas de pé''.
Segundo a senadora Slhessarenko, os debates realizados no fórum levaram a ''avanços imediatos'' e a metas que serão vitais em 2012, quando vence o prazo de validade do Protocolo de Kyoto.
(Por Bruno Garcez, BBC Brasil, 15/02/2007)
http://www0.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/02/070215_wolfowitzbg_ac.shtml