Uma associação em Rondônia que uniu a recuperação de áreas desmatadas ao cultivo de frutas típicas da região conseguiu reflorestar cerca de 500 hectares com 800 mil plantas e melhorar as condições de vida dos agricultores de seis municípios do Estado. A entidade incentiva a diversificação da produção, distribuindo mudas de espécies nativas. O trabalho começou há cerca de 15 anos com 12 produtores de mel, e abrange hoje 250 famílias que cultivam e comercializam itens tão diversos como palmito de pupunha, cupuaçu, araçá-boi, graviola e açaí. Os produtos, vendidos in natura ou em forma de doces e geléias, já conquistaram mercado na Europa.
A assistência técnica oferecida pela APA (Associação de Produtores Alternativos) atende agricultores dos municípios de Ouro Preto D’Oeste, Nova União, Mirante da Serra, Urupá, Teixeirópolis e Vale do Paraíso — uma das regiões mais populosas de Rondônia, que tem forte vocação agropecuária. Além de estimular a produção de árvores frutíferas, a entidade distribui entre os sócios mudas destinadas ao reflorestamento das áreas desmatadas. A idéia é que os agricultores colaborem na preservação dos recursos ambientais que garantem sua produção, segundo a presidente da entidade, Marli de Andrade Seiger.
Uma das ações ambientais desenvolvidas pela associação ajudou a reflorestar e evitar uma degradação ainda maior de uma reserva que estava sendo explorada por madeireiros, de acordo com Marli. “A APA encabeçou um projeto de manejo que fez toda a pesquisa e a medição da madeira da região. Com base nisso, foi definido um plano de manejo para a reserva”, conta. “Os agricultores até plantaram algumas mudas de árvores na cabeceira de três rios, para ajudar a recuperar a área desmatada”.
Essa combinação de produção diversificada e preservação ambiental deu tão certo que acabou criando um novo “problema” para a APA. Hoje, os agricultores não conseguem produzir o suficiente para atender a procura, segundo Marli. “Temos muita demanda da França, que compra muito palmito de pupunha. Também exportamos bastante polpa de fruta, como açaí, araçá e cupuaçu”, afirma a presidente da entidade. Segundo ela, já estão sendo desenvolvidos alguns projetos para ajudar os agricultores a produzir mais.
A produção aliada à preservação e ao reflorestamento representa a inversão dos valores na região de Ouro Preto D’Oeste. A ocupação de Rondônia ocorreu por meio da formação de núcleos urbanos ao longo de três eixos rodoviários. O município de Ouro Preto D’Oeste, situado às margens da BR-364, foi resultado de um projeto do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) que, nos anos 70, dividiu a região em lotes, ignorando as condições ambientais da localidade, segundo o Ministério do Meio Ambiente. Para receber os lotes, que eram doados, as famílias tinham que se comprometer a realizar uma série de “benfeitorias” na propriedade, o que incluía a derrubada da mata virgem para produção.
Esse modelo de ocupação trouxe grandes perdas ambientais à região, na avaliação do ministério. Atualmente, a criação extensiva de gado abrange grande parte das terras do município. Se consideradas a área de plantio de café e cacau, o índice de desmatamento chega a 79,27%, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) — afeta mais de 1,5 mil quilômetros quadrados dos quase 2 mil quilômetros quadrados de Ouro Preto D’Oeste. O quadro fica ainda mais grave quando se observa que Rondônia é o terceiro Estado da Amazônia Legal que mais desmata, atrás somente de Mato Grosso e Pará.
Por navegar contra a maré da ocupação da região ao incentivar a preservação ambiental, a APA foi considerada pelo Ministério do Meio Ambiente uma experiência que serve de lição para outras iniciativas semelhantes. O reconhecimento veio na forma de um dos sete cadernos publicados pelo PDA (Projetos Demonstrativos), com o apoio do PNUD, da Fundação Banco do Brasil, da Cooperação Técnica Alemã e do Instituto Internacional de Educação do Brasil.
(Por Alan Infante,
Agência PNUD, 14/02/2007)