As exportações brasileiras de produtos orgânicos já classificadas com código específico no Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex), criado em julho de 2006, alcançaram US$ 5,552 milhões entre agosto e o último mês de janeiro, conforme o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
Trata-se da primeira série histórica disponível, por isso não há base de comparação. E o próprio ministério alerta que os embarques certamente são muito superiores ao total apurado, uma vez que o preenchimento dos campos de informação do Siscomex relativos a orgânicos ainda é voluntário. "Exatamente por isso estamos muito contentes com a reação do mercado", disse Mário Mugnaini, secretário-executivo da Câmara de Comércio Exterior (Camex). Estima-se que as vendas domésticas e externas desses produtos movimente ao menos US$ 150 milhões por ano no país, e cerca de US$ 40 bilhões no mundo.
"O salto a ser dado ainda vai acontecer, e virá com a regulamentação da lei", afirmou Rogério Pereira Dias, coordenador de agroecologia do Ministério da Agricultura e secretário-executivo da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Agricultura Orgânica. Sancionada em dezembro de 2003, a lei estabelece parâmetros para o mercado brasileiro, da produção à certificação.
Não há data prevista para a regulamentação, e este hiato valoriza os dados compilados pelo MDIC, que acabaram por se transformar na primeira referência "oficial" do segmento. Quem acompanha esse mercado não viu grandes surpresas nas estatísticas de exportações, mas os números foram considerados relevantes até por confirmarem expectativas que têm ajudado a balizar produção e estratégias de vendas.
Do ponto de vista econômico, a mais importante delas é a supremacia do açúcar nos embarques nacionais. Conforme os dados "classificados" pelo MDIC, as vendas externas do produto e derivados somaram US$ 3,702 milhões de agosto de 2006 a janeiro - ou quase 67% do total computado. Também se destacaram as exportações de manteiga, café, cacau e manga. "Apesar da prevalência do açúcar, há variedade na lista", afirmou Mugnaini.
Entre os principais destinos dos orgânicos brasileiros no exterior, os EUA ocuparam o topo do ranking "oficial", com importações de US$ 2,288 bilhões (41,2% do total). A Holanda comprou US$ 1,637 bilhão em orgânicos brasileiros entre agosto e janeiro, e Canadá, Japão e Reino Unido completam o rol dos cinco principais mercados do país na área.
Hoje (15/2), em Nurembergue (Alemanha), uma delegação brasileira formada por 25 empresas, quatro associações e sete cooperativas já estará presente na abertura da edição 2007 da Biofach, maior feira de produtos orgânicos do mundo. Pelo quinto ano seguido, a "missão" ao evento é liderada pela Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). Nas edições anteriores, houve negócios que ajudaram a abrir mercados. "Até nesse ponto a regulamentação da lei é importante. Os importadores estão aguardando, entre outros motivos por causa das regras de certificação", afirmou Dias.
(Por Fernando Lopes,
Valor Econômico, 15/02/2007)