Pastoral Ecológica tenta conscientizar Cachoeira do Sul para dar o destino correto a pilhas e baterias
2007-02-15
Apesar da aparência inocente e pequeno porte, pilha e baterias presentes em celulares, câmeras digitais, MP3 players, controles remotos, brinquedos e tantos outros aparelhos eletrônicos é hoje um grande problema ambiental. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), no Brasil são produzidos anualmente cerca de um bilhão de pilhas. Sem ter informação que esses produtos se tratam de lixo químico doméstico, grande parte da população acaba simplesmente jogando no lixo, em rios ou em terrenos baldios.
Em Cachoeira do Sul, a Pastoral Ecológica desenvolve um importante trabalho de conscientização e recolhimento desse material. Cerca de 40 caixas de coletas estão espalhadas nos principais pontos comerciais e nas escolas da cidade. De acordo com uma das coordenadoras da iniciativa, Lourdes Albarnaz, são recolhidas em média 600 pilhas e 30 baterias por mês. “O número de baterias realmente é muito pequeno. Não sei o que a comunidade está fazendo com esse material”, questionou Lourdes. Todo o material recolhido é repassado para a empresa Divinut, que faz a armazenagem em bombonas plásticas. De acordo com o diretor da Divinut, Edson Ortiz, esse trabalho faz parte do Projeto Cuidado.
DESCARTE - “Sabemos que o destino correto não é esse, mas nosso grande objetivo é não deixar que essas pilhas e baterias acabem poluindo o solo e a água”, enfatizou Ortiz. “Um dia os fabricantes vão ter que cumprir a legislação e recolherem as pilhas e baterias”, completou. Hoje, a empresa possui cerca de duas toneladas desse material armazenado. Apesar desse trabalho estar sendo realizado desde 2004, a maior parte da comunidade na compra de novas pilhas não devolve as usadas. Os principais danos relacionados às pilhas são à saúde humana. Alguns dos seus componentes, como o mercúrio, podem causar distúrbios renais e neurológicos. Já o cádmio, substância também presente nesses produtos, é considerado agente cancerígeno e também pode causar danos ao sistema nervoso. Esse metal se acumula, principalmente, nos rins, fígado e nos ossos.
ATENÇÃO - A utilização de pilhas recarregáveis pode diminuir o problema do descarte irregular desse material, mas não termina com os danos que causa ao meio ambiente, já que até mesmo esse tipo de produto tem data de validade. E após esse período não deve mais ser utilizado. 100 anos é o tempo mínimo que uma pilha demora para se degradar. Já para os metais contidos nela o tempo de degradação é infinito. As assistências técnicas autorizadas pelos fabricantes de celulares também recebem as baterias de celular. Em Cachoeira do Sul, somente a Hospicell recebe o material.
Lei de descarte ainda não é clara
Apesar dos inúmeros riscos apontados por especialistas em relação ao descarte irregular das pilhas, quem buscar informações nas embalagens dos maiores fabricantes, no entanto, será instruído a descartá-las no lixo doméstico. Essa instrução se baseia na resolução publicada em 1999 pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) que regulamenta o descarte desse material. De acordo com a resolução, as pilhas e baterias que respeitam os limites de material pesado, como mercúrio, cádmio e chumbo, podem ser jogadas na lixeiras de casa, desde que os resíduos sejam despejados em aterros sanitários licenciados.
Como nem sempre as pilhas e baterias respeitam esse limite ou são despejadas em aterros regulamentados, o Conama já está buscando especificar melhor a destinação desse produto que contém elementos poluentes. O texto da resolução está sendo revisado e deverá ser votado em março. Uma das mudanças é a determinação aos fabricantes para reduzir os percentuais dos elementos químicos da composição daqueles produtos considerados toleráveis no ambiente.
SOLUÇÃO - Além disso, o órgão quer obrigar os estabelecimentos que fabricam e comercializam aqueles produtos, bem como a rede de assistência técnica autorizada, de aceitar dos usuários a devolução das unidades poluentes usadas. A melhor alternativa apontada pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente é cada município buscar alternativas para o recolhimento das pilhas e baterias, como a iniciativa da Pastoral Ecológica.
UMA PERGUNTA - As pilhas são os maiores poluentes?
Não. A lista é grande. Entre os resíduos considerados mais poluidores ao meio ambiente, ao lado das pilhas e baterias estão as embalagens de produtos tóxicos, corrosivos, inflamáveis e venenosos, lâmpadas fluorescentes, lixo hospitalar, odontológico, veterinário e farmacêutico, curativos e similares e material radioativo.
Efeitos das substâncias encontradas nas pilhas e baterias
> Mercúrio: distúrbios renais e neurológicos como irritabilidade, timidez e problemas de memória. Além disso, essa substância causa deficiências nos órgãos sensoriais (tremores, distorções da visão e da audição).
> Cádmio: além de ser considerado agente cancerígeno, provoca dores reumáticas e miálgicas, distúrbios metabólicos que levam à osteoporose e disfunção renal.
> Chumbo: gera perda de memória, dor de cabeça, irritabilidade, tremores musculares, lentidão de raciocínio, alucinação, anemia, depressão, insônia, paralisia, salivação, náuseas, vômitos, cólicas, perda do tônus muscular, atrofia e perturbações visuais e hiperatividade.
> Lítio: afeta o sistema nervoso central, gerando visão turva, ruídos nos ouvidos, vertigens, debilidade e tremores.
> Níquel: provoca dermatites, distúrbios respiratórios, gengivites, efeitos carcinogênicos, cirrose e insuficiência renal.
> Zinco: provoca vômitos e diarréias.
> Cobalto: causa “sarna do cobalto”, além de conjuntivite, bronquite e asma.
> Bióxido de manganês: provoca anemia, dores abdominais, vômitos, crises nervosas, dores de cabeça, seborréia, impotência, tremor nas mãos, perturbação emocional.
(Jornal do Povo, 15/02/2007)
http://www.jornaldopovo.com.br/default.php?arquivo=_materia.php&intIdConteudo=75276