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2007-02-15
Um dos mais festejados especialistas das Américas na área de investigação médica, o Dr. Paulo Saldiva, titular do Departamento de patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), defende ações que concentrem esforços na eliminação ou redução da poluição atmosférica, uma ameaça crescente à saúde humana e à vida no planeta. A USP é instituição parceira no Projeto de Biomonitoramento do Ar durante o Carnaval de Salvador, junto com a Secretaria de Meio Ambiente do Estado da Bahia (Semarh), a Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Secretaria Municipal de Saúde e Superintendência Municipal de Meio Ambiente. Saldiva concedeu a seguinte entrevista à Assessoria de Comunicação da Secretaria do Meio Ambiente da Bahia.

Semarh - Como o senhor vê a iniciativa de monitorar a qualidade do ar, durante o Carnaval de Salvador?
Paulo Saldiva - Nenhuma ação para limpar a atmosfera pode ser tomada sem sermos capazes de medir a concentração existente. De posse desses resultados, podemos identificar pontos ou situações onde a poluição do ar pode trazer maiores riscos à saúde humana, permitindo agir pontualmente, para identificar a fonte e atenuar seu impacto.

Semarh - O senhor tem conhecimento de outra pesquisa similar no país, em que a monitoração tenha ocorrido de forma pontual, mas significativa, como a que será realizada no Carnaval de Salvador?
Saldiva - Na verdade, este tipo de estudo é exploratório e específico para uma situação urbana localizada. Existem vários estudos no ambiente urbano, envolvendo grandes contingentes populacionais, mas acredito que este seja inédito.

Semarh - Quais são hoje os fatores decisivos para agravar o aquecimento global e a poluição ambiental?
Saldiva - Toda e qualquer ação humana é potencialmente capaz de gerar poluição, principalmente do ar, com danos à saúde e ao meio ambiente, incluindo o efeito estufa. Na legislação ambiental são definidos os poluentes e os níveis aceitáveis de sua concentração para manter limites de segurança, em termos de danos à saúde. Os poluentes presentes na atmosfera produzidos pela ação do homem correspondem a uma gama enorme e quase todos têm potencial, direto ou indireto, para contribuir no agravamento desses efeitos ao meio ambiente.

Semarh - A USP está enviando a Salvador um equipamento mecânico, que será usado no experimento. Como funciona?
Saldiva - O equipamento nefelômetro é um monitor contínuo de concentração de material particulado (poeira em suspensão), regulado especificamente para a fração fina, ou seja, com capacidade para detectar a poeira com tamanho máximo suficiente para penetrar no trato respiratório.

Semarh - Como nefelômetro é utilizado na cidade de São Paulo e que tipo de resultados gera?
Saldiva - Este equipamento é utilizado apenas em pesquisas, em face de a Cetesb (Companhia Estadual de Tecnologia de Saneamento Ambiental de São Paulo) dispor de uma rede de monitoramento, já instalada na capital paulista. O aparelho fornece dados da concentração instantânea de material particulado, nos locais onde realizamos nossos experimentos, muitas vezes longe de alguma estação da companhia, ou mais afetada por alguma fonte local de emissão, que desejamos analisar.

Semarh - As grandes cidades têm o dever de monitorar diariamente a qualidade do ar?
Saldiva - A legislação ambiental exige monitoramento para qualquer cidade de médio ou grande porte. Infelizmente poucos cumprem adequadamente a legislação. É importante notar que apenas monitorar não reduz a poluição do ar, mas permite identificar onde temos problema e qual a sua magnitude. Assim, ações de intervenção podem ser direcionadas a esses locais, evitando exposição humana de maneira efetiva.

Semarh - Que doenças estão relacionadas à exposição do homem à poluição do ar?
Saldiva - As principais vítimas da exposição humana aos poluentes atmosféricos são os sistemas respiratório e cardiovascular. A magnitude do efeito pode ser percebida desde um desconforto, que não requer qualquer ação, até a necessidade de atendimento médico. Em muitos casos doenças já existentes podem ser agravadas pela poluição do ar. Assim, pessoas internadas, ou mesmo idosos já com problemas de saúde, serão mais fortemente impactados, quando houver poluição do ar.

Semarh - Como o indivíduo pode tentar se proteger dessa ameaça?
Saldiva - Como a poluição do ar é a mais democrática forma de poluição, ela atinge indistintamente ricos e pobres, simplesmente porque respiramos. Assim, a única forma efetiva de nos protegermos dela é ficarmos longe de áreas com maior concentração de poluentes no ar. Mas é muito mais prático e inteligente concentrar esforços na eliminação ou redução da poluição emitida.
(Assessoria de Comunicação Semarh-BA, 14/02/2007)

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