Dentro de um mês, a Oleoplan deve começar a operar a primeira usina de biodiesel do Estado. Investimento de R$ 21,5 milhões, o complexo, localizado no município de Veranópolis, terá capacidade para produzir 100 milhões de litros de combustível limpo ao ano, utilizando como matérias-primas soja, mamona, semente de girassol e canola.
A fabricação de biodiesel se dará principalmente a partir da soja - da mesma maneira que em outras três usinas gaúchas em implantação -, embora a indústria da Serra já desenvolva testes em 54 cidades com outras culturas. Para processar os grãos, a Oleoplan utilizará a estrutura existente na sua empresa de óleos vegetais e extração de farelos e farinhas.
- Assim, investimos 50% a menos do que seria necessário em um projeto deste porte e agilizamos a instalação. Os recursos foram focalizados na unidade de transesterificação, que separa o biodiesel da glicerina - explica o diretor industrial, Domingos Celenti.
Mesmo sem ter ligado as máquinas, a Oleoplan comercializou, em um leilão público, 10 milhões de litros de biodiesel para a Petrobras, que devem ser entregues em março. O restante da produção, que este ano deve chegar a 80 milhões de litros, segundo o presidente Irineu Boff, será negociado no mercado interno e externo com empresas particulares.
- A exportação é um caminho atraente porque nosso custo de produção somado aos impostos é menor que em países como a Alemanha. Mas o Brasil também tem demanda - ressalta Boff.
Para pôr a usina em funcionamento, 162 pessoas estão sendo contratadas, número que aumentará a folha de pagamento que hoje é de 100 funcionários. A empresa tem autorização da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para executar o projeto, mas o documento que possibilita seu funcionamento ainda não foi expedido.
O presidente da Oleoplan diz que a licença de operação somente será liberada quando as obras e a fase de testes estiverem totalmente concluídas, no fim deste mês. A assessoria da ANP informa que o documento deve ser assinado até março.
Novas oportunidades
Assim que entrar em funcionamento, a usina de biodiesel da Oleoplan não criará somente empregos dentro da fábrica. Os maiores beneficiados serão produtores rurais das regiões do Planalto e Depressão Central.
Em cinco anos, a empresa pretende ampliar para 25 mil o número de famílias fornecedoras de matérias-primas como a soja. Hoje, 15 mil propriedades abastecem a indústria de óleos vegetais, que processa 330 mil toneladas ao ano.
Além de soja, a Oleoplan investe na produção de culturas alternativas como mamona, girassol e canola, que podem ser cultivadas nas entressafras da soja. Testes com mamona estão sendo feitos em 54 municípios gaúchos.
- As propriedades ficam em cidades de planície porque na Serra não temos topografia ideal. Também são levados em conta o zoneamento de microclima e a vocação de produção - explica o diretor da Oleoplan, Domingos Celenti.
No mercado de biodiesel, a mamona apresenta-se como uma oleaginosa promissora porque possui até 45% de óleo em sua semente, enquanto que o grão de soja tem 17% de rendimento. Outra vantagem, segundo Celenti, é que, em vez dos farelos gerados pela soja, a mamona tem como subproduto um tipo de fertilizante.
- A produção de biodiesel com diversas culturas é uma excelente oportunidade para o campo, para as indústrias e para o meio ambiente - ressalta o presidente Irineu Boff.
Em 2006, a Oleoplan, que completa 27 anos no mercado, faturou R$ 200 milhões. Este ano, com a implantação da usina, a previsão é arrecadar 50% a mais, cerca de R$ 300 milhões.
Mais projetos no RS
Outras três usinas de biodiesel estão em construção no Estado: a BSBios, em Passo Fundo, a Granol, em Cachoeira do Sul, e a Brasil Ecodiesel, em Rosário do Sul, na Fronteira Oeste. A BSBios e a Brasil Ecodiesel devem entrar em funcionamento em abril e, a Granol, em outubro.
A usina de Rosário do Sul terá a maior produção do Estado, com 300 mil litros ao dia. Investimento de R$ 40 milhões, esta empresa está movimentando a cidade, uma vez que empregará 250 pessoas e vai incrementar em 30% a arrecadação municipal.
Juntas, as quatro usinas gaúchas terão capacidade para produzir 430 milhões de litros ao ano, quase a metade da demanda nacional em 2008, quando será obrigatória a adição de 2% de biocombustível ao óleo diesel. O investimento para instalação das quatro plantas é de R$ 123,5 milhões, segundo o coordenador do programa gaúcho de produção de biodiesel, David Turik Chazan, que afirma que o Rio Grande do Sul tem vantagens competitivas na produção de biodiesel em relação a outros estados.
- A matéria-prima do biodiesel, a soja, está aqui. Temos o domínio sobre a produção agrícola e, com o aumento de demanda, a renda dos agricultores vai melhorar. Não apenas com a soja, mas com as novas culturas - enfatiza.
A Petrobras já tem projetos para implantar duas usinas de biocombustíveis no Estado, em Bagé e Palmeira das Missões. Entretanto, as construções ainda estão em fase de análise.
Hoje, 45% do Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul é vinculado ao agronegócio, segundo a Secretaria Estadual de Agricultura, sendo que a área agricultável é de 20,68 milhões de hectares.
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Jornal Pioneiro, 14/02/2007)