A missionária americana, morta com seis tiros em Anapu, no oeste do Pará, defendia o desenvolvimento sustentável da floresta e o direito à terra dos trabalhadores rurais.
Dois anos após o assassinato da missionária norte-americana Dorothy Stang em Anapu, no oeste do Pará, os fazendeiros Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, e Regivaldo Galvão, o Taradão, acusados de ordenar o crime, ainda aguardam julgamento. É uma tradição no Pará. Segundo levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT), apenas cinco mandantes dos 358 crimes por conflito de terra ocorridos até hoje foram condenados. No entanto, não há nenhum preso.
O Comitê Dorothy, composto por entidades da sociedade civil, entregou neste domingo (11 de fevereiro) à governadora Ana Júlia Carepa e à secretária de Segurança Pública Vera Tavares um documento relatando casos de morte no campo e a situação de famílias que vivem em áreas rurais desde o assassinato da missionária.
Além da impunidade, as áreas protegidas criadas após o crime na região da Terra do Meio e no ano passado às margens da BR-163, ainda aguardam implementação. Nenhuma dessas áreas teve sua regularização fundiária, nem foram demarcadas ou sinalizadas.
“Faltam funcionários, equipamentos e as unidades de conservação continuam sendo alvo de desmatamentos e incêndios criminosos”, diz André Muggiati, do Greenpeace. “A implementação dessas áreas e dos PDS (Projetos de Desenvolvimento Sustentável), pelos quais lutava irmã Dorothy, é fundamental para estancar a violência.”
Irmã Dorothy foi assassinada com seis tiros disparados por Rayfran das Neves e Clodoaldo Carlos Batista, já condenados. Também foi condenado o intermediário do crime, Amair Feijoli da Cunha, que pagou os pistoleiros.
A rapidez com que ocorreram os julgamentos de três deu a impressão de que os crimes agrários no Pará seriam olhados pela Justiça sob outra ótica. Mas, passados dois anos, o atraso no julgamento dos principais mandantes do crime da morte de Dorothy reforça a idéia de lentidão e descaso da Justiça para com os crimes agrários no estado.
Irmã Dorothy
A missionária norte-americana naturalizada brasileira Dorothy Stang, 73 anos, foi assassinada no dia 12 de fevereiro de 2005. Ela vivia há mais de 30 anos na região da Transamazônica e dedicou quase a metade de sua vida a defender os direitos de trabalhadores rurais contra os interesses de fazendeiros e grileiros da região, de forma absolutamente pacífica. Desde 1972, ela trabalhava com as comunidades rurais de Anapu pelo direito à terra e por um desenvolvimento sustentável, sem destruição da floresta.
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Greenpeace Brasil, 12/02/2007)