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2007-02-13
Quando a União Européia (EU) lançou seu esquema de comércio de emissões para combater as mudanças climáticas, o bloco provavelmente não considerou a hipótese de que poderia eventualmente fornecer um incentivo para poluir. Mas isto é exatamente o que aconteceu. Apenas um pouco mais de dois anos desde o lançamento do esquema, o primeiro do seu tipo ao redor do mundo, o preço de uma permissão para emitir uma tonelada de dióxido de carbono (CO2) mergulhou para uma baixa recorde de apenas €1.50 (US$1.94), uma pequena fração do pico que alcançou €30 em abril passado.

O analista da JPMorgan, Chris Rogers, afirma que com o preço atual é muito mais barato para as usinas queimar carvão e comprar as permissões para poluição, do que comprar combustíveis mais limpos como o gás natural. Rogers estima que uma usina pode comprar carvão €10 por megawatt/hora mais barato do que o gás. “Não há incentivos econômicos para o usuário importar menos carvão do que no ano passado,”disse. Mas o esquema foi desenvolvido para incentivar as grandes indústrias e usinas de energia a substituir suas fontes de energia altamente poluidoras como o carvão por combustíveis mais limpos, como o gás.

As companhias receberam uma certa quantia de permissões e, caso quisessem emitir mais, teriam que comprar mais permissões no mercado. Se uma companhia fosse mais ‘limpa’, poderia vender suas permissões extra. Entretanto, um excesso de permissões foi feita e os baixos preços derrotaram o propósito original do esquema. O resultado disso foi o crescimento das importações de carvão para a Europa, com a Inglaterra chegando a importar volumes recordes no ano passado.

A experiência tem sido acompanhada de perto por um número crescente de outras partes, que procuram estabelecer esquemas alternativos de comércio de emissões ao passo que as preocupações com as mudanças climáticas crescem. A China e os Estados Unidos declararam esta semana que estão trabalhando para o estabelecimento de uma bolsa de comércio de carbono em Beijing. A Austrália, que não assinou o Protocolo de Kyoto (assim como os Estados Unidos), irá analisar o mercado de carbono como parte de um esquema global.

O incentivo para poluir na UE, entretanto, muda no ano que vem, quando a segunda fase do esquema de comércio de emissões entra em ação. Nesta segunda fase, a UE irá designar um número menor de permissões. As permissões da primeira fase não podem ser levadas para a segunda fase. Como resultado, os preços do carbono para a segunda fase são muito mais altos. O preço do carbono para dezembro de 2008 está a €15 a tonelada.

Traders ainda temem uma possível pressão nos preços do carbono para 2008, já que a segunda fase possibilita o ganho de permissões através de projetos de energias limpas em países em desenvolvimento, as chamadas RCEs (Reduções Certificadas de Emissão), podendo ser trocadas por permissões européias.

O presidente de mercados ambientais da Barclays Capital, Louis Redshaw, afirmou que haverá um limite para a quantidade de RCEs que poderão ser convertidas em permissões, que varia entre os membros da UE. Redshaw disse que até 2009 haverá mais esquemas de comércio de carbono, incluindo esquemas no Japão e Canadá, onde as RCEs poderão ser negociadas. “Quando chegarmos a 2009, 2010, o esquema da Europa não será o único e, assim, as RCEs irão para os mercado que oferecerem o melhor preço. Então pode ser que nem tantas venham para a EU.”

Segundo Redshaw, o efeito potencial da diluição das RCEs é refletido nos preços da segunda fase, já que os preços para 2009 são negociados como um prêmio para 2008. O preço do carbono para dezembro de 2009 é cotado em €15.50, 2010 em €16.00, 2011 em €16.50 e 2012 em €17. O aumento dos preços a partir de 2012 é devido a inclusão do setor de aviação.

Apesar da performance dos preços da primeira fase do esquema europeu, investidores e analistas estão confiantes de que haverá uma terceira fase do esquema. O diretor de gerenciamento da Icap Energy, Paul Newman, explica que nem a agenda de Kyoto, nem a do esquema europeu desaparecerão no final de 2012, pois muitas pessoas já estão envolvidas, o que trás a certeza de que haverá algum mercado posterior. “De qualquer modo, acabar com o mercado em cinco anos seria como desligar o ventilador exatamente no momento em que o paciente está começando a melhorar”, destaca.
(Reportagem de Kevin Morrison, Financial Times, 12/02/2007)
http://www.carbonobrasil.com/noticias.asp?iNoticia=17737&iTipo=7&idioma=1

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