Ilhas Sylt, Tuvalu e São Tomás compartilham um desafio comum: o eventual desaparecimento em razão da mudança climática
2007-02-13
Sylt, a maior das ilhas Frísias,
alemãs, no Mar do Norte, perdeu, pelo menos, 800 mil metros cúbicos de areia
de suas praias nos últimos dois meses devido às fortes tempestades e
inundações que caracterizam o outono e inverno boreais em 2006-2007. Do
outro lado do planeta, no sudoeste do Pacífico, Tuvalu, um diminuto
arquipélago de nove atóis e arrecifes, cujo ponto mais alto fica apenas
cinco metros acima do nível do mar, sofre uma perda semelhante de
território, pelas mesmas razões. “Tuvalu está se afogando”, é, há anos, um
grito de alarme típico das autoridades das ilhas.
Sylt, Tuvalu e dezenas de outros territórios parecidos, como os da região do
Caribe, são os mais vulneráveis ao constante aumento da temperatura
terrestre, que, segundo a quarta avaliação do Grupo Intergovernamental sobre
Mudança Climática (IPCC, sigla em inglês), apresentada no dia 2 de
fevereiro, em Paris, poderá chegar a quatro graus em 2100. O aquecimento
global, produzido pelas emissões de gases causadores do efeito estufa, já
provoca uma sensível alta do nível do mar, bem como tempestades, furacões e
inundações cada vez mais freqüentes e poderosas, com um evidente saldo de
destruição ambiental e humana. De acordo com a avaliação do IPCC, neste
século o nível do mar poderá aumentar entre 28 e 43 centímetros, por causa
da mudança climática.
Para os habitantes de Sylt, Tuvalu e ilhas similares isso pode significar,
literalmente, seu desaparecimento do mapa. “A perda de areia e a destruição
das praias de Sylt são muito graves”, disse ao Terramérica Jürgen Jensen,
comissário do governo federal da Alemanha para o Estudo e a Proteção do
Litoral. “O problema principal é que durante o outono passado e o inverno
atual, tempestades têm sido quase uma constante, com ventos muito fortes. Se
as inundações atacarem as encostas da ilha, as conseqüências serão muito
difíceis de serem reparadas”, afirmou.
Os 800 mil metros cúbicos de areia, levados pelo mar nas últimas semanas,
faziam parte de uma reparação das praias de Sylt realizada no ano passado.
Reabilitações semelhantes acontecem regularmente há anos. Jensen alertou que
o desaparecimento de Sylt, com 90 quilômetros quadrados e altitude máxima de
52 metros, constituiria uma grave ameaça para o litoral de terra firme.
“Sylt é um quebra-ondas natural. Se desaparecer, as ondas atacarão
diretamente o continente”, afirmou o especialista. Em Tuvalu, de apenas 27
quilômetros quadrados, a elevação do oceano ameaça a existência da própria
sociedade local.
“Em meu país, estamos muito atemorizados e preocupados com as inundações.
Não dispomos de outra pátria para onde emigrar. Mas ainda é tempo para
agir”, disse o embaixador de Tuvalu, Enele Sopoaga, em um discurso perante a
Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas, em setembro. Sopoaga
recordou que “muitos Pequenos Estados Insulares em Vias de Desenvolvimento
(Sids, sigla em inglês), como o seu país, são extremamente vulneráveis aos
impactos da mudança climática e à elevação do nível do mar”. Os Sids são 51
pequenos Estados insulares, ou territórios vizinhos ao mar, na África,
Caribe, Oceano Índico e Oceania, e produzem menos de 1% das emissões de
gases que provocam o efeito estufa.
No Caribe, várias ilhas, como São Tomás (Ilhas Virgens), são consideradas em
risco de desaparecerem devido a inundações. Além disso, a elevação da
temperatura e da acidez da água do mar, também causada pelos gases que levam
ao efeito estufa, destróem os arrecifes de coral e, com isso, a própria base
da diversidade marinha regional. Porém, o aspecto que mais preocupa os
meteorologistas caribenhos é o aumento na freqüência e potência de furacões,
prognosticado pelo IPCC. “A temperatura dos oceanos é o fator mais
importante na formação de um furacão. Se aumenta, a temporada de furacões
será mais forte e prolongada”, disse por telefone ao Terramérica o
oceanógrafo da Universidade das Ilhas Virgens, Roy Watlington.
Para este especialista, isto destruirá o litoral das ilhas e, por extensão,
o turismo (“nossa primeira fonte de renda”) e a arquitetura colonial em
portos e áreas históricas do Caribe. Um estudo do projeto “Adaptação à
Mudança Climática no Caribe”, feito em 2003 pela ONU, calculou as
conseqüências econômicas para a região de mais furacões em quase US$ 1
bilhão, tanto no turismo quanto em outras atividades produtivas de 11 ilhas
da região. Além das inundações e da destruição de corais, as Nações Unidas
estimam que o aquecimento global provocará a salinização de fontes de água
doce, mais erosão e aumento das doenças virais nas ilhas do Caribe.
(Por Julio Godoy, Terramérica, 12/02/2007)
http://envolverde.ig.com.br/materia.php?cod=27831&edt=1