Ambientalista critica impacto de obra da Suzano Bahia Sul Celulose financiada pelo BNDES
2007-02-13
Nem sempre os projetos apoiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) são elogiados pela sociedade que convive dia-a-dia com o empreendimento. É o caso do financiamento de R$ 2,4 bilhões concedidos pelo banco para a expansão da produção da Suzano Bahia Sul Celulose em sua unidade industrial de Mucuri, interior baiano.
O resultado do financiamento da produção de eucalipto voltada totalmente à exportação é criticado pelo coordenador do Grupo Ambientalista da Bahia (Gambá), Renato Cunha, por significar a expansão da monocultura de eucalipto. “A preocupação é que além do impacto ambiental significativo, há a extinção da floresta”, afirma Cunha. "Perde-se em termos de biodiversidade, porque esses plantios de eucalipto não absorvem isso”, indicou.
Cunha considera também que o projeto inibe a diversificação de cultivos na região, não valorizando a produção agrícola local. "Tanto que a região hoje praticamente não produz alimentos, porque só produz eucalipto, celulose”, acusou. O ambientalista acredita que esse tipo de projeto financiado pelo BNDES traz poucos impactos posivitos no campo social. "Eles concentram terras e capital e não agregam valor para a região. É tudo exportado. É tudo virtual para a região porque produz madeira para celulose, depois vai tudo embora e as comunidades não ficam com nada”, explanou.
Se os R$ 2,4 bilhões financiados pelo BNDES para a Suzano Bahia Sul Celulose "fossem aplicados em outro modelo de desenvolvimento, mais sustentável, que agregue mais valor ambiental à região e inclua a sociedade, representaria possibilidades de outro tipo de melhoria da qualidade de vida das pessoas, de emprego e renda", defende Cunha.
A empresa defende-se afirmando que a exportação de U$ 500 milhões anuais em eucalipto gera entrada de dólares para o Brasil. Segundo o BNDES, a expansão da produção poderá estabelecer uma grande parceria com os pequenos proprietários rurais, que poderão se transformar em fornecedores de madeira para a unidade industrial da Suzano Bahia Sul Celulose na localidade de Mucuri.
"É um setor como outro qualquer", defende diretor das Áreas de Inclusão Social e de Crédito do BNDES, Élvio Gaspar. "É uma das nossas vocações, como está parecendo ser no país a indústria do petróleo, a indústria naval, o turismo”.
Segundo Gaspar, “a gente não pode inventar". "Acho que não seria uma boa ação gerencial no país, para dizer o mínimo, se ele buscasse inventar vocações. Ele possui vocações e todas elas são muito boas. Se a gente conseguir desenvolver essas vocações, nós não só estamos nos preparando melhor para a disputa internacional, como também estamos conseguindo gerar riqueza. Nós temos que aproveitar nossas vocações e, certamente, papel e celulose é uma delas”.
BNDES avalia impactos sociais de projetos, garante diretor
O impacto social causado pelos projetos financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) são analisados pela diretoria do banco, que estuda formas de reduzir os efeitos colaterais de algumas obras. “Um grande empreendimento normalmente produz muitos empregos em determinado momento. Mas depois que ele é implantado, permanecem poucos empregados na operação", analisa o diretor das Áreas de Inclusão Social e de Crédito do BNDES, Élvio Gaspar. "Isso costuma gerar um cinturão de pobreza no entorno dos projetos industriais de grande porte ou projetos de infra-estrutura”.
Para evitar esse problema, Gaspar afirma que o BNDES discute projetos paralelos que possam distribuir de alguma forma a riqueza produzida pelas grandes obras. Neste momento, isso ocorre, segundo ele, com projetos em torno do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Compet) e do porto de Suape, no litoral pernambucano.
Em Pernambuco, a ampliação do sistema de produção de água de Pirapama vai garantir o abastecimento de água no Complexo Industrial e Portuário de Suape. Estão previstas a implantação de uma nova Estação de Tratamento de Água (ETA); recuperação da ETA Gurjaú; recuperação e ampliação da estação elevatória de água tratada; construção de adutora com 6.898 metros de extensão e de reservatório com capacidade de 1.200 metros cúbicos; e implantação de uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE).
“Nós estamos fazendo uma articulação com o Ministério das Cidades, a Caixa Econômica Federal e a Petrobrás, que são os demais sócios nos projetos, para discutir o que serão os projetos de saneamento, habitação, mobilidade urbana que nós vamos apoiar nos municípios para que o impacto desses projetos de grande porte seja o melhor possível”, manifestou.
O diretor do BNDES enfatizou que não se trata somente de minorar o “efeito perverso”. “Como o projeto traz um efeito riqueza muito forte, é aproveitar esse momento e aumentar a velocidade de distribuição disso para a população. Então, nós estamos atacando o desenvolvimento regional no entorno dos grandes projetos industriais e de infra-estrutura, além dos Arranjos produtivos locais (APLs)”. Os APLs são aglomerações de pessoas com a mesma vocação econômica.
Ao entrar em operação, o Comperj deverá levar a uma substancial expansão da oferta de produtos petroquímicos básicos (olefinas e aromáticos), a partir do petróleo nacional pesado, afirma o BNDES. O pólo petroquímico do Rio vai utilizar como matérias-primas etano e propano derivados do gás natural, extraídos pela Petrobras na Bacia de Campos.
Para isso, o BNDES conta com um elemento denominado sub-crédito social. “Nesses grandes projetos, a gente incentiva fortemente o tomador do empréstimo, para que ele também tome um pouco mais do que pediu para apoiar algum projeto social na comunidade onde ele vai se instalar”, explicou o diretor.
Essa prática já existia no banco e foi revisada em 2005 com o objetivo de dar uma identidade com os programas sociais do governo federal, disse Gaspar. “Isso está em funcionamento, tem dado certo, tem aumentado o valor. Na verdade, o que a gente está fazendo é financiar a responsabilidade social das empresas, como a construção de moradias para os funcionários, como a implantação de serviços públicos nos municípios onde elas se instalam que, em geral, são municípios pobres, até que consigam, com a receita que vão receber por todos esses serviços, se adiantarem”, explicou.
Outra vantagem dos empreendimentos financiados pelo BNDES, segundo Gaspar, é a geração de empregos com maior qualidade. As 9.839 empresas apoiadas pelo banco, segundo ele, tiveram uma taxa de crescimento do emprego de 5,1% ao ano, no período 2001/2005, superando em cerca de dois pontos percentuais as empresas não apoiadas, cujo crescimento atingiu 3,3% ao ano.
(Por Alana Gandra, Agência Brasil, 11/02/2007)
http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2007/02/07/materia.2007-02-07.7045102530/view
http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2007/02/06/materia.2007-02-06.4617112974/view