Dois dos principais departamentos de pesquisa ambiental do país, na área de poluição atmosférica, estão envolvidos no projeto de biomonitoramento do ar, nos circuitos do Carnaval de Salvador. A bioquímica Nelzair Viana, que coordenará a monitoração da presença de poluentes e sua concentração, atrás dos trios, durante a folia momesca, terá apoio de especialistas das universidades Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e São Paulo (USP) na realização do experimento.
O biólogo Leonardo Andrade, do Departamento de Histologia e Embriologia da UFRJ, virá especialmente acompanhar a aplicação dos biomonitores trazidos do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. Cerca de três quilos de exemplares da bromélia Tillandsia usneoides vão ser colocados em 15 pontos, selecionados nos circuitos Campo Grande/Castro Alves, Barra/Ondina e Pelourinho.
A planta é a principal ferramenta a ser utilizada para coletar amostras da poeira presente no ar, chamada pelos pesquisadores de particulado. Segundo Leonardo, durante os cinco dias de muita festa, Salvador também sediará um experimento pioneiro em estudos de poluentes, "por conta do grande apelo popular e da época em que será realizado".
Também conhecida como "barba-de-velho", as plantas serão instaladas em pontos eqüidistantes, ao longo de 25 quilômetros de circuitos carnavalescos, onde são previstas grandes concentrações de pessoas. As bromélias vão ser acondicionadas em cilindros plásticos vazados, a no mínimo três metros do solo.
O biólogo explica que nesta altura existe a mesma quantidade de poeira, que seria inalada normalmente pelo homem em seu dia-a-dia, além dela ser ideal para evitar possíveis depredações. "Já houve casos de não encontrarmos as bromélias no momento da coleta, por isso devemos protegê-las ao máximo", esclareceu o pesquisador.
Para Leonardo, a grande vantagem de usar a espécie está na possibilidade de analisar os níveis de absorção imediata de metais. "Como o particulado se acumula facilmente na superfície da bromélia, a pesquisa pode ser feita em curto prazo". Outro benefício é que, como a planta já é utilizada há bastante tempo, "os resultados poderão ser comparados com outras pesquisas, feitas em lugares e situações diferentes", afirmou o biólogo, empolgado com o projeto. Originária dos trópicos, a Tillandsia usneoides vive em média cinco anos, podendo ser utilizada na monitoração em qualquer período do seu ciclo de vida.
Após o Carnaval, as plantas serão levadas para o laboratório da UFRJ e passarão por uma análise, que quantificará os níveis de metais pesados inalados pelos foliões. Com o apoio da Secretaria Municipal de Saúde de Salvador, serão cruzados dados da pesquisa com o índice de procura aos postos de saúde, de foliões apresentando sintomas de doenças respiratórias.
Aplicadas também para verificar o nível de mercúrio no ar da região amazônica -Amazonas e Roraima, as pesquisas de incidência de metais na atmosfera utilizando a Tillandsia foram iniciadas na Itália, durante a década de 70, e replicadas em diversos países do mundo. No Brasil, além de Salvador, experimentos com a planta estão acontecendo hoje em cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Além da UFRJ e USP estão apoiando o projeto em Salvador a Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado -Semarh, Fundação Osvaldo Cruz, Superintendência Municipal de Meio Ambiente e Secretaria Municipal de Saúde.
(
Assessoria de Comunicação SEIA-BA, 07/02/2007)