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2007-02-08
A bacia do Rio São Francisco tem milhares de barragens de pequeno porte que garantem às populações locais o fornecimento contínuo de água. Para grande parte das comunidades agrícolas esses pequenos reservatórios de 1 a 40 hectares representam uma questão de sobrevivência, por isso sua construção, em geral, leva em conta apenas aspectos locais. Até agora não são conhecidos os impactos do conjunto das barragens sobre a dinâmica hidrológica da bacia, nem os riscos sociais e ambientais relacionados a elas.

Essas são questões centrais de um estudo coordenado por Lineu Neiva Rodrigues, pesquisador da Embrapa Cerrados, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, sobre a dinâmica de uso e o impacto provocado pelas pequenas barragens na hidrologia da bacia do rio Preto, uma sub-bacia do São Francisco.

O estudo, iniciado em 2004, faz parte do Challenge Program on Water and Food, financiado pelo governo da Alemanha com recursos de US$ 2,2 milhões. A iniciativa foi do Grupo Consultivo de Pesquisa Internacional em Agricultura, do qual o Brasil faz parte, que selecionou, em todo o mundo, projetos voltados para problemas relacionados à água e à segurança alimentar.

“Além do nosso, foram selecionados outros dois projetos na África com objetivos semelhantes, um na bacia do Volta, em Gana, e outro em Limpopo, no Zimbábue. No total, estão envolvidos mais de 20 pesquisadores e 50 estudantes. Participam do programa oito instituições estrangeiras e seis brasileiras, além da Embrapa”, disse Rodrigues.

Segundo o pesquisador, imagens de satélite de 2001 mostram que só na bacia do Rio Preto, que corresponde a 1,6% da bacia do rio São Francisco, existem mais de 200 barragens construídas. “Um reservatório de um ou dois hectares não chega a comprometer a dinâmica do local. Mas quando se pensa em 10 ou 20 deles, há grandes impactos nos recursos hídricos. Um dos objetivos é elaborar um modelo matemático que permita considerar toda a bacia na hora de implantar um novo reservatório de pequena dimensão”, explicou.

Os pesquisadores coletam, há dois anos, informações de satélites dos pequenos reservatórios, além de indicadores de vazão, chuva e solos. Até abril, serão coletados os dados finais para a alimentação dos modelos e em outubro o projeto deverá estar finalizado. “Quando os dados estiverem coletados, vamos rodá-los nos modelos matemáticos que fazem uma avaliação do contexto hidrológico ligado ao contexto socioeconômico”, disse Rodrigues.

Feitas de forma independente e em épocas diferentes, sem integração entre elas, muitas das barragens operam em condições inadequadas ou estão prestes a romper. “Na construção, que geralmente é feita pelos próprios agricultores, só se leva em conta aspectos locais, mas todas elas estão hidrologicamente interligadas pelo rio”, afirmou.

De acordo com Rodrigues, os resultados preliminares do estudo indicam que os reservatórios raramente são bem planejados, instalados e manejados, embora interfiram nos padrões de saúde e de bem-estar socioeconômico das comunidades.

“A ruptura de um deles pode comprometer não só a subsistência da comunidade local, mas também a das comunidades que se localizam mais abaixo. A erosão causa sedimentação e diminui a disponibilidade, podendo gerar graves conflitos pelo uso da água.”

Os pesquisadores visitaram 135 reservatórios na bacia, no Distrito Federal, Minas Gerais e Goiás. Verificaram que 17,04% foram construídos há mais de 30 anos e que mais de 73% dos proprietários não têm qualquer informação técnica sobre a construção da barragem. Quase 40% das barragens é destinada à irrigação. Mais da metade dos proprietários não utiliza nenhuma técnica de manejo de irrigação e apenas um terço tem outorga de direito de uso da água.

Modelos sofisticados
Além do componente hidrológico, o software Weap, utilizado pelos pesquisadores, conta com um componente que permite cadastrar o número de culturas agrícolas, a distribuição dos habitantes e valores econômicos ligados à produção agrícola.

“Com isso, podemos analisar os efeitos de uma mudança no sistema de irrigação e na substituição de culturas, por exemplo, prevendo o impacto na condição socioeconômica da comunidade e na disponibilidade de água”, contou Rodrigues.

Outro modelo hidrológico utilizado é o Swat, que permite prever o que poderá ocorrer com os recursos hídricos da região em um prazo de até 20 anos. “Como é quase impossível cadastrar todas as características de milhares de barragens, estamos desenvolvendo uma metodologia própria para simular a existência de uma grande represa equivalente ao conjunto dos reservatórios. Desse modo, poderemos calcular o que ocorrerá caso seja construída mais uma pequena barragem”, disse o pesquisador da Embrapa Cerrados.

De acordo com Rodrigues, o grupo já tem a bacia georreferenciada com todos os seus reservatórios, incluindo dados sobre chuva e evaporação a cada cinco minutos. “Estamos instalando também sistemas que permitirão avaliar a variação do lençol freático da bacia e equipamentos para medir evaporação e infiltração de água nos reservatórios.”

A equipe inclui pesquisadores das áreas de solos, sensoriamento remoto, socioeconomia, recursos hídricos, irrigação e qualidade de água.
(Por Fábio de Castro, Agência Fapesp, 08/02/2007)

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