Al Gore pede compromisso da atual geração para reverter catástrofe ambiental
2007-02-08
O ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore apelou ontem (7/2) para um "compromisso desta geração" para reverter a "catástrofe do meio ambiente" gerada pela poluição por dióxido de carbono (CO2), causa do aquecimento global da Terra.
"Temos que nos comprometer como geração", pediu Gore às centenas de pessoas que acompanharam seu discurso em Madri, durante a abertura do I Encontro sobre Energia, Município e Aquecimento Global, que conta com a participação de políticos, empresários e cientistas.
O tema da apresentação de Gore foi "O maior problema atual da humanidade: o aquecimento global e nossa ação para reduzi-lo".
O ex-vice-presidente americano falou sobre as terríveis conseqüências que o planeta enfrentará caso a política para o meio ambiente não sofra mudanças.
Na linha do bem-sucedido documentário "Uma Verdade Inconveniente", que se tornou referência mundial da luta contra o aquecimento global, o político americano palestrou por quase duas horas sobre os problemas que, segundo Gore, "já podem ser verificados no presente", e suas possíveis soluções.
Caso medidas não sejam adotadas, as previsões mais pessimistas dizem que, em 2050, entre 300 mil e um milhão de pessoas podem morrer em decorrência das mudanças climáticas, que destruirão as regiões litorâneas do mundo devido ao degelo da Groenlândia e da Antártida.
O aquecimento global da atmosfera e dos mares é um fato considerado "unanimidade na comunidade científica" e que "os empresários começam a admitir", afirmou Gore, que acrescentou que agora é a hora de a sociedade e os políticos evitarem uma tragédia.
"Estamos diante de um problema moral", disse o número dois da Casa Branca durante a Presidência de Bill Clinton (1992-2000).
Segundo Gore, este é um desafio tão relevante para a humanidade quanto o da geração dos anos 40 que lutou contra o nazismo.
"Como será lembrada nossa geração, seremos os egoístas autodestrutivos que fracassaram na hora de reagir e enfrentar sua responsabilidade ou seremos a geração que foi capaz de tomar decisões difíceis?", questionou o ex-vice-presidente americano.
"O impacto dos seres humanos sobre a Terra é tão devastador que precisamos fazer algo agora ou nossos filhos nos perguntarão por que não o fizemos", disse Gore, que afirmou que os países já possuem a tecnologia para frear a mudança climática, mas "falta o compromisso".
O ex-vice-presidente americano também apresentou dados para confrontar a alegação daqueles que afirmam que não há nada a ser feito, que, na sua opinião, seriam "os mesmos que diziam antes que não havia um problema".
"Possuímos o conhecimento tecnológico para ampliar o uso das energias renováveis", acrescentou Gore, que considerou provável e fácil que os Estados Unidos, país responsável por mais de 30% das emissões mundiais de dióxido de carbono na atmosfera, consigam voltar aos níveis de poluição de 35 anos atrás.
Um exemplo recente do compromisso para reduzir a destruição da camada de ozônio é o acordo internacional assinado pelos países industrializados para a restrição da emissão dos clorofluorcarbonetos (CFC) na atmosfera.
Gore criticou a política ambiental da administração do presidente dos EUA, George W. Bush, que nomeou como assessor neste tema Philip Cooney, que durante anos foi um famoso defensor dos interesses da indústria petrolífera.
No entanto, o ex-vice-presidente afirmou que é possível perceber uma mudança de tendência, principalmente na opinião pública americana e nos níveis locais da Administração, que levou vários estados e 369 cidades de todos os EUA a apoiarem os conteúdos do Protocolo de Kyoto.
Os Estados Unidos e a União Européia (UE) possuem uma responsabilidade especial para liderar este processo, pois historicamente foram os mais poluidores, e devem convencer potências emergentes como a China, cujo Governo ainda nega a existência do problema, a adotarem as medidas para reduzir a poluição.
Gore negou que reduzir o aquecimento esteja atrelado a frear o desenvolvimento econômico dos países e acrescentou que a proliferação das energias renováveis - descartando inicialmente um novo fomento à energia nuclear - "ajudará a melhorar as economias".
O americano terminou o discurso com um verso do escritor espanhol Antonio Machado, a quem, numa gafe, referiu-se como "o poeta sul-americano", para dizer que é preciso agir e que se deve fazer isso já: "Caminhante, não há caminho, o caminho é construído ao andar".
(EFE, 07/02/2007)
http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2007/02/07/ult1809u10582.jhtm