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2007-02-08
O governo de Cuba procurar dar novo impulso à geração de energia elétrica a partir da biomassa da cana-de-açúcar para auto-abastecer a indústria açucareira, altamente consumidora, e aumentar paulatinamente sua contribuição à rede nacional de distribuição. “Cinco toneladas de bagaço equivalem, aproximadamente, a uma tonelada de petróleo. Temos uma mina”, disse à IPS Paulino López, chefe do programa de Desenvolvimento Energético do Ministério do Açúcar.

Por sua vez, Bárbara Hernández, chefe do Departamento de Energia dessa área, acrescentou que a exploração dessa “mina” utiliza atualmente a infra-estrutura industrial e agrícola disponível, pois os planos para produzir eletricidade além da satisfação das necessidades do setor requerem investimentos que ainda precisam ser feitos. “No momento, nos contentamos com o que temos”, afirmou. Os engenhos que se mantêm ativos depois da reestruturação feita em 2000 aceitaram e prepararam suas instalações para a co-geração de energia, tanto para o processo industrial quanto para beneficiar a comunidade.

Os planos de mais longo prazo são dispor de sobre de energia e vender à rede nacional, mas os funcionários preferiram não quantificar o capital necessário para isso. Segundo a Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), o potencial local de produção de eletricidade através do bagaço e resíduos de cana recuperáveis (rac) pode ser utilizado de maneira otimizada mediante a introdução de caldeiras de alta pressão e temperatura, ligadas a turbo-geradores de extração-condensação. Um estudo da Cepal sobre o assunto indica que, com essa tecnologia, seria possível alcançar em 44 centrais selecionadas uma capacidade instalada de aproximadamente dois mil megawatts.

Hernández insistiu em dizer que os planos encaminhados para conseguir maior eficiência energética da indústria açucareira constam, desde 2005, do programa de desenvolvimento traçado para todo o país nessa área, baseado especialmente na economia de energia e prevê aumento no uso de fontes renováveis. Cuba continua dependendo fundamentalmente do petróleo para a geração elétrica. A biomassa da cana é seu principal e mais antigo portador limpo de energia, junto à hidrelétrica. Em 2005, a participação da indústria açucareira na produção total de eletricidade foi de 4,5%, confirmou Hernández.

Esse aporte foi conseguido com 56 centrais que moeram cerca de 12 milhões de toneladas de cana-de-açúcar. Estudos acadêmicos citados por Hernández indicam que na atual colheita açucareira se poderá chegar a obter 36,5 quilowatts/hora por tonelada de cana moída, de acordo com as possibilidades da biomassa e da eficiência industrial. “Em 2007, pretendemos o autoabastecimento de 40 centrais das 50 que operarão durante o período da safra (iniciada em janeiro) e entregar à rede nacional 21,5% da energia elétrica gerada pelo setor”, explicou a funcionária do ministério. O custo de cada quilowatt é cerca de quatro vezes inferior ao obtido por meio de combustível fóssil, além de não provocar contaminação.

Segundo especialistas, a biomassa é a única fonte de energia que não causa aumento do dióxido de carbono na atmosfera. Devido à queda da produção açucareira na última década, a participação deste setor no total da eletricidade gerada no país caiu de 10% para 5,6% entre 1990 e 2002. Nesse último ano começou um processo de reestruturação do setor com o fechamento de 71 fabricas e a redução das áreas dedicadas ao cultivo da cana-de-açúcar, com o objetivo declarado de aumentar a eficiência para enfrentar a constante queda dos preços no mercado internacional.

As cotações começaram a melhorar no final de 2005, chegaram a US$ 0,17 a libra em abril de 2006 e atualmente se mantêm acima dos US$ 0,10 a libra. Diante dessa alta, o governo cubano decidiu dedicar recursos à reativação do setor e aumentar a plantação de cana. Nesse novo clima, a empresa Heriberto Duquesne, localizada em Remedios, na província de Villa Clara e a 268 quilômetros de Havana, iniciou no ano passado um processo para produzir álcool a partir da cana, através da adaptação de tecnologia brasileira.

Entre outras vantagens, este sistema, que se espera estender a outras destilarias do país, deixa mais bagaço para a geração de eletricidade e é 40% menos contaminante do que a fabricação de álcool a partir caldos, explicou o engenheiro Eloy Pérez, especialista do grupo que fez o projeto. Trata-se da primeira experiência que se realiza, como parte do programa cubano para modernizar 11 das 17 destilarias existentes e instalar outras sete, para aumentar a produção de álcool para uma quantidade entre 300 mil e 500 mil litros de etanol por dia.

Até agora, em Cuba fábrica-se álcool somente a partir dos melados finais, que são um subproduto da produção açucareira, usado basicamente na fabricação de rum. Mas os planos de desenvolvimento visam a produção de álcool combustível. “ Nesta estrategia de industrialização flexível há três produções principais: açúcar de alta qualidade, álcool e energia elétrica”, explicaram à IPS diretores dessa empresa. A destilaria de la Duquesne tem capacidade para produzir 50 mil litros diários de etanol. “A idéia é diversificar, não depender de apenas um produto”, acrescentou Pérez.

Um dos orgulhos deste complexo agroindustrial é que todo açúcar que produz é refinado em uma unidade próxima que se autoabastece da energia elétrica gerada a partir do bagaço e da palha de cana. “É a única refinaria do país que atualmente de energia elétrica e não consome petróleo”, asseguraram os diretores. A capacidade de geração elétrica desta centra açucareira é de três megawatts, que no próximo ano aumentará para 4,5 megawatts. Segundo os funcionários essa quantia abastece o engenho, a destilaria, a refinaria e cerca de duas mil pessoas do batey, nome que em Cuba se da ao pequeno conjunto residencial da fábrica açucareira.
(Por Patricia Grogg, IPS/Envolverde, 07/02/2007)
www.envolverde.com.br

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