EUA querem nova parceria brasileira para ampliar o mercado global para o etanol
2007-02-08
A pesquisa e o desenvolvimento de biocombustíveis podem ser o "eixo simbólico" de uma parceria "nova e mais forte" entre Brasil e Estados Unidos com o objetivo de ampliar o mercado global para o etanol e reduzir a dependência do petróleo, afirmou ontem o subsecretário de Estado americano para Assuntos Políticos, Nicholas Burns.
A redução dessa dependência é "um passo adiante estratégico", disse Burns em São Paulo, a primeira escala de uma visita de três dias ao Brasil que o leva hoje a Brasília. Segundo ele, a expansão do uso de combustíveis renováveis é fundamental para acabar com o efeito "distorcivo" do petróleo nas relações internacionais.
"A energia tende a distorcer o poder de alguns Estados que nós achamos que têm um peso negativo no mundo, como a Venezuela e o Irã. Então, quanto mais pudermos diversificar nossas fontes de energia e nos tornarmos menos dependentes do petróleo, melhor ficaremos. Estou falando de uma perspectiva americana. O Brasil deve falar por si mesmo", afirmou Burns, 51, que é o terceiro homem na hierarquia do Departamento de Estado.
A Venezuela, com a qual os EUA têm uma relação política ruim desde a tentativa de golpe contra Hugo Chávez, em 2002, é o quarto maior fornecedor de petróleo para os EUA. O Irã, com o qual os EUA não mantêm relações desde a Revolução Islâmica, de 1979, é o terceiro maior produtor mundial do combustível. Em janeiro, o presidente americano, George W. Bush, propôs que os EUA tenham como meta reduzir em 20% o consumo de petróleo nos próximos dez anos.
Barreiras
A parceria que Burns veio propor ao Brasil não passa, pelo menos a curto prazo, pela redução das barreiras comerciais que impedem o aumento das exportações do etanol brasileiro para os EUA.
Ele disse que está ciente da "insatisfação" dos brasileiros com essas tarifas, que lhe foi expressada ontem pelo governador de São Paulo, José Serra, com quem almoçou, e por representantes do setor privado, com quem se reuniu de manhã. Mas disse que, "como um humilde subsecretário de Estado", tem que implementar as leis aprovadas pelo Congresso.
O presidente Bush pode enviar proposta de redução das tarifas? "O presidente teria que tomar uma decisão, olhar para todos os fatores", respondeu. Ademais, observou, o Brasil não teria condições de atender à demanda interna e à americana. Nos EUA, o etanol é feito principalmente do milho, cujos produtores recebem generosos subsídios e constituem base eleitoral importante.
Burns disse que um acordo com o Brasil sobre biocombustíveis deve se concretizar "em menos de 12 meses" e teria três componentes:
1) Uma cooperação maior entre governo e setor privado dos dois países, que juntos respondem por 70% da produção mundial de etanol.
2) O envolvimento de outros países da região, tanto na produção de biocombustíveis quanto na formação de mercado para esses produtos.
3) A ampliação do mercado global para os biocombustíveis, principalmente o etanol, "de modo que ele se torne uma commodity global".
"A questão dos biocombustíveis contém enormes promessas para a relação Brasil-Estados Unidos. Se as nossas sociedades e governos podem estar juntos cooperando, isso pode ser o catalisador de uma parceria mais vigorosa", disse Burns.
(Por Cláudia Antunes, Folha de S. Paulo, 07/02/2007)
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi0702200702.htm