A Agência Internacional de Energia (AIE) revisou para cima suas previsões para a produção mundial de biocombustíveis (etanol e biodiesel), mas apontou "fortes incertezas" quanto à sua viabilidade econômica. A agência destaca o apoio político à produção em vários países, sobretudo nos EUA - traduzido em generosos subsídios aos produtores por razões de segurança energética e ambiental.
Os EUA, que superaram o Brasil na produção de etanol, subsidiam os produtores com US$ 0,50 por galão, para compensá-los pela pouca atratividade econômica no segmento. Mas a AIE destaca que a recente queda do petróleo, para cerca de US$ 55 por barril, coincidiu com uma disparada do milho, o que tornou a produção de etanol menos atraente.
Assim, o economista Julius Walter, autor do capítulo sobre biocombustível no relatório da AIE, estima que só com muita subvenção é que os EUA alcançarão sua meta de reduzir em 20% o consumo interno de gasolina em dez anos, a partir do incentivo a combustíveis alternativos. Já o Brasil continua sem subsídios.
Neste contexto, hoje, em Genebra, o Brasil estará ao lado de Canadá, União Européia, Austrália e Argentina contra os EUA na primeira consulta de uma disputa aberta pelos canadenses contra subvenções ao milho, produto mais usado para a produção americana de etanol.
Embora os biocombustíveis estejam no foco da agenda internacional, a persistência de "incertezas significativas" levam a AIE a fazer projeções conservadoras comparadas a outras análises. A agência estima que a produção de etanol e biodiesel cresceu 20% em 2006, para 780 mil barris por dia. A expectativa é que o total alcance 1 milhão de barris por dia este ano, e 1,5 milhão em 2011.
Os EUA já tem 112 refinarias de etanol, com capacidade de 360 mil barris por dia. Outras 84 usinas estão em construção ou expansão. Com novos projetos sendo anunciados a cada semana, a capacidade total americana pode chegar a 1 milhão de barris de etanol em 2008.
Com relação ao biodiesel, 87 usinas tem produção combinada de 40 mil barris por dia nos EUA. Outras 78 estão em construção, com 90 mil barris adicionais. A agência estima que a tendência de aumento no setor continuará diante da "generosa" ajuda governamental americana.
Também a Europa ampliou a capacidade e a produção mais rapidamente do que a agência previa. A produção de etanol já é de 40 mil barris por dia, e uma capacidade adicional de 50 mil barris está em construção. Na América Latina e na Ásia, os governos igualmente estimulam a mistura com gasolina e vêem oportunidades de exportar para a Europa e para os Estados Unidos.
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Valor Econômico, 07/02/2007)