A rejeição mundial ao arroz geneticamente modificado ficou clara nesta terça-feira (06/02), com o compromisso assumido por 41 dos maiores exportadores, processadores e comerciantes mundiais do produto de não trabalharem com transgênicos. Essa onda global pode ser conferida no novo relatório do Greenpeace sobre os mercados de arroz.
O relatório
Colapso na Indústria de Arroz traz declarações de empresas da Ásia, Europa, Austrália e das Américas e o compromisso da maior empresa processadora de arroz do mundo, a Ebro Puleva, de não comprar arroz americano – que em sua maioria é transgênico. Isso ocorre devido ao incidente de contaminação ocorrido em 2006, quando o suprimento mundial de arroz foi contaminado com uma variedade experimental e ilegal de arroz transgênico produzido pela empresa de biotecnologia Bayer. O relatório também conta com a declaração de três empresas brasileiras: Camil, Yoki e Josapar, responsável pela marca Tio João.
“A declarações das empresas brasileiras deixam claro que não há espaço para o arroz transgênico no Brasil”, disse Gabriela Vuolo, coordenadora da campanha de engenharia genética do Greenpeace Brasil. “Estamos falando do alimento básico dos brasileiros, e o mercado está atento à vontade dos consumidores. A Bayer não deveria ignorar esses fatos, e deveria pensar duas vezes antes de ir adiante com o seu pedido de liberação comercial”.
Várias ações judiciais multi-milionárias foram movidas por agricultores americanos que se recusaram a assumir o prejuízo causado pela irresponsabilidade e conduta negligente da Bayer. Os agricultores afirmam que a empresa foi responsável pela contaminação dos estoques de arroz e pelas perdas econômicas dos produtores de arroz dos Estados Unidos, e por isso deve compensá-los.
Para o advogado Adam Levitt, parceiro em Chicago do escritório de advocacia Wolf Haldenstein Adle Freeman & Herz, um dos líderes do processo contra a Bayer, a empresa vem tentando de todas as maneiras obter aprovação para o seu arroz geneticamente modificado em vários países do mundo. “Mas ela se recusa a aceitar responsabilidade pelos danos financeiros provocados por seu arroz transgênico nos Estados Unidos e em outros lugares. A Bayer está culpando os fazendeiros ou ‘atos de Deus’ por esses problemas, enquanto os fatos apontam a empresa como culpada”, afirmou.
O relatório do Greenpeace também analisa as implicações econômicas da contaminação provocada pela Bayer, o que inclui a queda nos preços futuros do arroz de até US$ 150 milhões – a maior queda em um único dia registrada em anos. Especialistas acreditam que as exportações de arroz dos Estados Unidos devem cair até 16% em 2006/2007.
Perdas de contratos, cancelamento de pedidos, proibições às importações, testes, recall de produtos e perda de credibilidade da marca são algumas das conseqüências dos escândalos envolvendo o arroz ilegal da Bayer.
Como mostra o relatório, a tecnologia da engenharia genética não está controlada – como tentam fazer acreditar os seus defensores. Pelo contrário, as memórias de 2006 só demonstram cada vez mais a ineficiência de empresas e governos em lidar com os transgênicos. “A indústria de biotecnologia tem sofrido vários revezes nos últimos tempos. Não garante segurança, não conquistou a confiança do mercado e não vem crescendo como ela mesmo esperava. Hoje, cerca de 70% da área plantada com transgênicos concentra-se em apenas dois países – Estados Unidos (53%) e Argentina (17%).
Países em que a Bayer CropScience solicitou autorização para o cultivo ou consumo. Todos os pedidos são para a variedade LL62.
1. Austrália – alimentação humana e ração, pedido em 2006
2. Brasil – cultivo, alimentação humana e ração, importação de sementes, novos campos experimentais. Pedido em 2006.
3. Canadá – Aprovação garantida para alimentação e ração em 2006
4. União Européia (25 países) – alimentação e ração. Pedido em 2004
5. Nova Zelândia – alimentação e ração. Pedido em 2006.
6. Filipinas – alimentação e ração. Pedido em 2006
7. África do Sul – alimentação e ração. Pedido em 2006.
8. Estados Unidos – aprovações concedidas para cultivo, alimentação e ração das variedades LL601, LL62 e LL06.
(
Greenpeace Brasil, 06/02/2007)