Efeito estufa pré-histórico salvou a Terra do congelamento
2007-02-06
Dióxido de carbono, um gás do efeito estufa que se tornou uma das principais ameaças à civilização, pode ter salvado a Terra
de congelar no início de sua história, de acordo com a primeira análise laboratorial detalhada das rochas sedimentares mais
antigas já encontradas.
Cientistas vinham teorizando, há anos, que altas concentrações de gases do efeito estufa poderiam ter ajudado a Terra a
escapar de um congelamento global, ao permitir que a atmosfera retivesse mais calor do que era perdido para o espaço. Agora,
uma equipe da Universidade de Chicago e da Universidade do Colorado em Boulder encontraram evidências e apoio a essa idéia,
ao analisar rochas da Baía de Hudson, no norte de Québec, no Canadá.
O estudo mostra que o dióxido de carbono na atmosfera terrestre pode ter sustentado temperaturas acima do ponto de
congelamento da água há mais de 3,75 bilhões de anos.
O novo trabalho ajuda a explicar como a Terra evitou se converter num bloco de gelo numa época em que, estimam os astrônomos,
o Sol era 25% mais fraco do que hoje.
As rochas estudadas contêm carbonatos de ferro que, acredita-se, precipitaram-se nos oceanos antigos. Já que os carbonatos de
ferro só poderiam ter surgido numa atmosfera contendo muito mais CO2 que a atmosfera terrestre atual, os pesquisadores
concluíram que o ambiente terrestre primitivo era extremamente rico nesse gás.
A pesquisa também sugere um mecanismo de termostato natural: conforme o planeta esfria, o desgaste das rochas pelo clima
diminui, e o gás carbônico - que poderia ser aprisionado em carbonatos gerados a partir desse desgaste - se acumula na
atmosfera, o que, ao longo do tempo, induz a um reaquecimento.
Já quando a temperatura atinge um nível máximo, o desgaste das rochas retorna e o excesso de CO2 se fixa nos carbonatos, que
acabam arrastados para o fundo do mar pelos rios.
O trabalho aparece na edição de 2 de fevereiro do periódico Earth and Planetary Science Letters.
(O Estado de S. Paulo, 05/02/2007)
http://www.estadao.com.br/ciencia/noticias/2007/fev/05/266.htm