China prepara plano nacional contra mudança climática
2007-02-06
A China prepara seu primeiro plano contra as mudanças climáticas, disse um
consultor do governo, salientando o crescente alarme com o aquecimento num
país onde nada parece conter o crescimento econômico.
Zou Ji, climatologista da Universidade Popular da China, em Pequim,
disse à Reuters que esse programa nacional provavelmente estabelecerá amplas
metas para emissões de poluentes e comportamento frente aos novos padrões
climáticos.
É provável que a nova política seja apresentada ainda neste ano, após pelo
menos dois anos de preparação e barganhas burocráticas, segundo ele.
"Tudo isso mostra que o governo chinês está dedicando cada vez mais atenção
a essa questão", disse ele. "Quando for aprovado e divulgado, será o
primeiro documento oficial e abrangente da China sobre a mudança climática."
Relatório climático
Na semana passada, uma comissão da Organização das Nações Unidas (ONU)
alertou que há grande probabilidade de que o aquecimento seja provocado
principalmente por atividades humanas. O mesmo relatório previa que ao longo
deste século a temperatura média do planeta subirá entre 1,8 grau Celsius e
4 graus, desencadeando secas, ondas de calor e uma elevação dos mares que
duraria mais de mil anos mesmo que forem contidas as emissões de poluentes.
A China deve superar a Alemanha e se tornar até 2008 a terceira maior
economia do mundo, atrás apenas de Estados Unidos e Japão. Mas já em 2009 o
país comunista pode superar os EUA como maior emissor mundial de gases do
efeito estufa, segundo a Agência Internacional de Energia.
O governo chinês não se manifestou oficialmente sobre o relatório da ONU,
mas Zou, que desde 2000 participa de negociações climáticas em nome da
China, disse que nos bastidores o estudo recebeu enorme atenção.
Pan Yue, vice-ministro de Meio Ambiente da China, disse que os países
desenvolvidos têm mais obrigação de reduzir as emissões de poluentes, mas
que a China vai contribuir, noticiou na segunda-feira o China Business News
.
"Como uma grande potência responsável, a China não vai fugir do seu
dever", disse Pan. "Há uma tremenda pressão para reduzir emissões, mas isso
não vai se resolver da noite para o dia."
Zou disse que o plano já passou pelo crivo de mais de 12 ministérios e
agências, e agora aguarda aprovação do Conselho de Estado. Os preparativos
para o congresso deste ano do Partido Comunista podem retardar a divulgação.
Crescimento X proteção ambiental
O dilema para o presidente Hu Jintao é conciliar a proteção ambiental a
políticas que garantam emprego e crescimento, segundo Alan Dupont,
especialista em segurança e mudança climática na Universidade de Sydney.
"Toda a estabilidade do regime e, tal qual vê Hu, o futuro do seu país
dependem da continuação do crescimento econômico de 8% a 9%", afirmou. "Mas
eles estão começando a perceber que a China não vai chegar aonde quer se não
lidar com as mudanças climáticas."
Poucas mudanças políticas importantes são anunciadas de antemão no
centralizado regime chinês, mas há crescentes sinais de que o governo teme
que o aquecimento global frustre suas ambições de prosperidade, estabilidade
e influência.
Zou disse que pela primeira vez os líderes do país receberão "aulas" de
especialistas a respeito de questões climáticas, um sinal da importância
cada vez maior do assunto para a cúpula chinesa.
(O Estado de S. Paulo, 05/2/2007)
http://www.estadao.com.br/ciencia/noticias/2007/fev/05/113.htm