Um sistema que está sendo elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente, em parceria com outros órgãos do governo e ONGs, vai permitir prever, com até anos de antecedência, a ocorrência de secas e enchentes em áreas consideradas suscetíveis à desertificação. Com isso, seria possível adotar medidas para minimizar os efeitos desses fenômenos, como a construção de barragens e o plantio de culturas resistentes aos fenômenos climáticos indicados.
As áreas suscetíveis à desertificação no Brasil ocupam pouco mais de 1,1 milhão de quilômetros quadrados (quase o mesmo que todo o Estado do Pará). Elas abrangem 1.201 municípios localizados no Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e norte de Minas Gerais. O fenômeno afeta também parte do entorno dessas regiões, totalizando 1,3 milhão de quilômetros quadrados (16% do território brasileiro), onde moram cerca de 31,6 milhões de pessoas (19% da população do país), segundo dados de 2000 — últimos disponibilizados pelo PAN (Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação), que tem o apoio do PNUD.
A criação de um Sistema Brasileiro de Alerta Precoce de Seca e Desertificação visa dar prosseguimento a uma determinação da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação, da qual o Brasil é signatário desde 1997. A convenção determina que os países reforcem seus trabalhos na área da climatologia, meteorologia e hidrologia e construam um sistema de alerta precoce em caso de seca. “Ele será um centro nacional, que possibilitará às instituições [governamentais] saber como operar e à população, como proceder”, destaca o coordenador do PAN, José Roberto de Lima.
A formulação do sistema ainda está em discussão, mas deve seguir algumas recomendações de um grupo de especialistas internacionais, como: cuidar para que os sistemas se baseiem mais na demanda dos usuários, criando centros sub-regionais; elaborar uma terminologia comum para facilitar a interação; facilitar o acesso a bases de dados e aumentar a transparência; melhorar os sistemas de alerta precoce da seca com informações sobre a degradação das terras; centrar a atenção no processo de tomada de decisões e não apenas nos avanços tecnológicos; e elaborar estratégias em colaboração com as comunidades locais.
“Será um sistema muito bom de detecção com base em imagens de satélites e análises cartográficas, que permitirá identificar uma seca daqui a três anos e, a partir daí, investir em barragens, em armazenamento hídrico”, diz Lima. “O índice de acerto será muito grande e ajudará a se trabalhar o planejamento. Não é preciso esperar que a coisa aconteça para socorrer as famílias. Quando acontecer, elas já estarão com a questão da alimentação resolvida, com a água e a produção acumulada”, prevê.
Para iniciar os trabalhos, ainda neste ano vão ser selecionados 20 municípios que serão monitorados em caráter experimental. As cidades que farão parte do projeto serão definidas durante um workshop, que acontecerá em 8 e 9 de fevereiro e discutirá também os detalhes do futuro sistema. O evento vai reunir, em São José dos Campos, representantes dos ministérios do Meio Ambiente, da Integração Nacional e da Ciência e Tecnologia, além de outros órgãos governamentais e não-governamentais.
(Por Talita Bedinelli,
Agência PNUD, 05/02/2007)